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Robôs vs repórteres (3)

VII.

Querem um exemplo?

(Bem atual, por sinal)

Lá vai:

Ontem, pela manhã, acordei com um baticum e um vozerio, tumultuando os arredores do prédio onde moro. Achei estranho e fui à varanda do apartamento para ver o que acontecia.

Era um grupo de trabalhadores – uns 100, pouco mais, pouco menos – que se manifestavam incentivados por uma voz que dizia palavras de ordem da carroceria de um caminhão de som.

Do décimo nono andar, nada chegava com clareza aos meus ouvidos. Quando muito entendi que a bronca era com o prefeito da cidade (São Bernardo do Campo), pois toda vez que o nome dele era citado surgiam vaias e apupos.

Por mais que estivesse no palco – não tão privilegiado assim – dos acontecimentos, não tinha a noção exata do que se sucedia.

Eu não existia. Não podia sequer legitimar as reivindicações.

Tudo o que eu queria, naquele preciso momento, é que a turma se mandasse logo dali visto que o trânsito começava a se tornar caótico – e eu precisaria ir para o trabalho logo, logo.

VIII.

Só a caminho do trabalho, hora e tanto depois, soube pelo rádio do carro o que de fato se deu ali bem diante do meu nariz.

Resumo da ópera:

Eram, sim, servidores municipais que, desde fevereiro, tentam uma audiência com o prefeito Marinho para discutir questões salariais. Querem um aumento e, ao que consta, a paciência da rapaziada se esgotou.

Cheguei na Universidade e não tive tempo de ouvir a versão dos assessores da Prefeitura para o caso, mas, creio, já deu para os meus amáveis cinco ou seis leitores entender mais exatamente o que queria demonstrar.

IX.

Outro exemplo.

(Este mais positivo)

Assisto na madrugada, num desses canais de TV por assinatura, um breve e empolgante show do grupo Casuarina. É a primeira vez que vejo a rapaziada que faz um samba da melhor qualidade, no melhor estilo Rio de Janeiro.

Fico impressionado.

Lá pelas tantas o principal vocalista do grupo diz que “melhor do que trabalhar em família é divertir-se em família”. Na sequência chama ”o seu digníssimo pai”: Lenine.

E todos cantam “Eu Quero Botar Meu Bloco Na Rua”, do saudoso Sérgio Sampaio, num momento que me é inesquecível.

Fim do espetáculo, os créditos sobem na tela escura e, surpreso, constato que a gravação é de 2012 e o show reverenciava os 10 anos de carreira dos meninos.

Onde eu andei esse tempo todo?

E onde andam os bons jornalistas que não me trouxeram notícias dos caras.

*amanhã continua…