Se tenho saudades da Redação?
A pergunta não chega a me surpreender.
Por tudo que escrevo aqui no blog e pelas histórias que conto aonde quer que eu esteja, seria inevitável que, mais cedo ou mais tarde, alguém a fizesse.
Surpresa mesmo é lhes dizer que nunca pensei na questão. O que me leva a crer, por conseqüência, que a resposta mais adequada é não.
Gosto de rememorar aqueles belos e idos tempos.
Mas, sinceramente, não saberia vivê-los hoje, com a mesma intensidade e com as tolas ilusões de outrora.
II.
O mesmo homem não atravessa duas vezes o mesmo rio. Não é assim que diz o sábio axioma. Homem e rio mudam a cada momento – e se transformam à medida que vivem uma nova experiência.
Não há dúvida que, mesmo sem a elegância de um Frank Sinatra interpretando “My Way”(Paul Anka), sinto-me confortável pelo caminho que percorri – e ainda percorro. Vale para a vida real, vale para o jornalismo…
Porque mesmo fundeando-se todo ele na chamada “vida real”, o jornalista não deixa de viver um mundo à parte quando, em plena atividade, trabalha na produção da notícia que, registre-se, pode vir alterar a vida de toda a sociedade.
Transformá-la, inclusive.
III.
Talvez esse (por vezes enganoso) mundo à parte, a pretensa função social da Imprensa e a magia de estarmos no lugar exato quando o fato acontece expliquem o total desapego de notáveis repórteres que decidem optar pelo jornalismo em áreas de conflito: os correspondentes de guerra.
Não era esta a intenção, juro – mas, já que tocamos no assunto, o blog registra e lamenta profundamente os trágicos episódios que causaram a morte dos jornalistas Rémi Olchlik (francês) e Marin Calvin (americana) nos bombardeios à cidade de Homs na Síria, além de ferir e encurralar outros tantos.
IV.
As ditaduras, seja qual for o matiz ideológico, são implacáveis.
Sabem que têm no bom jornalismo um destemido inimigo.