Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

Ser ou não ser…cronista! (3)

Não sei foi (e ainda é) a conversa que tivemos nesses dois últimos posts. Sobre crônicas e cronistas.

Sei que acordei, de madrugada, pensando na frase do saudoso Zé Jofre naqueles idos de 70 quando cheguei à redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.

“A crônica – dizia ele – é um dos raros espaços no jornal onde a emoção sobrevive”.

“Por isso – profetizou – é um gênero que tende a desaparecer”.

II.

Tonico Marques e Zé Jofre eram velhos resistentes, originários da Imprensa ideologizada dos anos 40 e 50. Trabalharam nos principais jornais de esquerda paulistanos, combateram o bom combate até que o Golpe de 64 os tirou das redações. Mesmo assim continuaram a luta, fundando jornais de bairro e – como diziam e nos ensinavam – dando voz e vez à periferia de São Paulo, então em pleno e desordenado desenvolvimento.

(Conto parcialmente a história de ambos na crônica “Marcão e Zé Jofre”, escrita em 2002 e aqui publicada em 8 de outubro de 2007. Consta também do livro “Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões”, lançado em 2010.)

Feita a apresentação, voltemos ao nosso assunto.

III.

Foi o que efetivamente começou a acontecer a partir dos anos 80 no embalo das transformações tecnológicas e mesmo social. Os jornais passaram a ser um produto de mercado (antes, por mais que fossem, não eram entendidos como tal) e o jornalismo passou a ser mais técnico do que propriamente autoral.

À época, Chico Buarque gravou a emblemática “A voz do dono e o dono da voz”, falando da relação das gravadoras com o artista. Na nossa “ilha” de resistência ao jornalismo (que alguns chamavam de) romântico, entendíamos que a analogia também poderia ser feita ao que se vivia nas grandes redações.

A reportagem perdia (e perde) espaço, e a crônica…

IV.

Embora ainda se encontre algum bravo defensor, o gênero foi atropelado pelo aburguesamento das redações e pela ditadura dos manuais de redação.

O cronista que andava de ônibus, vivia nos botecos e estava junto com as causas populares foi perdendo espaço para colunistas especializados – o psicólogo, o antropólogo, a ex-prefeita, o cientista política; e mais recentemente para a atriz global, o humorista da vez…

Nada contra, apenas uma constatação.

Tais senhores nos ensinam, como viver, o que é certo e o que é de bom tanto.

Não compartilham (a palavrinha da moda) o nosso modesto espaço, o chinfrim do nosso dia a dia de cidadãos comuns – e por isso mesmo bem mais próximo da realidade de um Brasil que se quer de todos os brasileiros.