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Ser ou não ser galã?

John Herbert foi o primeiro ator (que vi em cena) a ser chamado de galã.

A TV Invictus, com os pés palitos, mal havia chegado à nossa modesta casa, elevando o patamar da família Martino junto à vizinhança da Muniz de Souza.

Idos dos anos 50.

Ter um aparelho de TV em casa era um privilégio, inimaginável para os tempos atuais.

A atração da líder de audiência, a TV Tupi, canal 3 de São Paulo, era o teleteatro semanal, ao vivo, que Herbert protagonizava ao lado da então esposa Eva Vilma.

Na telinha, eles também viviam as aventuras de um casal apaixonado.

— Galã é o mocinho da peça, do filme, do teatro na TV – explicou-me didaticamente minha irmã Doroti. Sem deixar de salientar uma característica importante, vital, para quem desejasse ter o mesmo desempenho, seja na arte, seja na vida real.

— O rapaz precisa ser bonito. Muito bonito, o mais bonito de todos. Assim como o Tony Curtis e o James Dean, no cinema. Entendeu?

Acho que entendi na medida da compreensão da minha meninice

Sei que enfrentei corajosamente o espelho e fui tirar a prova com a mana?

— Dorô, no filme do Rin Tin Tin o galã é o tenente Rip Master, não é? Eu pareço como ele.

Não tardou e ouvi a resposta em tom de deboche.

— Não, você é a cara, ou melhor o focinho do protagonista da série, o cachorro.

Antes que abrisse o berreiro (ser filho caçula é bom porque qualquer coisa a gente apela para copiosas lágrimas),a mãe chegou para contornar a situação.

— Não é nada disso. Filho, você tem a idade do Cabo Rusty. Parece com ele, portanto.

(O menino Rusty, dono de Rin Tin Tin na série, era sardento como eu.)

Achei a comparação assim assim. Queria ser o galã.

Em todo caso, segurei o choro.

Com o tempo, conheci outros tantos e tamanhos galãs – entre eles, os pioneiros Hamilton Fernandes, José Parisi, Carlos Zara, Hélio Souto – mas, sempre tive John Herbert (que hoje morreu em São Paulo, aos 81 anos) no panteão dos grandes atores da dramaturgia brasileira.

Quanto a mim, percebi logo que não levava jeito, nem tinha pose de galã.

Por isso, nunca mais ousei encarar o tal desafio.

Hoje, tantos anos depois, vou me dar por satisfeito se alguém disser que pareço um arremedo do sargento O’Hara…