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Sobre o post de ontem…

Eu deveria imaginar que seria assim.

Escova, o implacável ombudsman do nosso humilde Blog, analisou, por conta e risco, o post de ontem como “uma válvula de escape” deste escrevinhador fubeca.

O motivo?

Segundo o amigo Escova (quem precisa de inimigo, com um ‘parça’ desses), eu não estaria disposto a comentar o grande feito do Corinthians ao se sagrar campeão brasileiro deste ano. Para ele, meu coração palmeirense não conseguiria tocar um texto minimamente confiável sobre a temática que bombou neste fim de semana.

Daí o recurso de publicar um trecho do premiado romance, As Alianças, do jornalista, poetam, cronista, contista, escritor, Lêdo Ivo.

Tento me explicar – mas sei que é em vão.

Digo a ele que a crônica esportiva é massivamente corintiana – e esgotou o assunto com tamanho entusiasmo que, sinceramente, nada de novo eu poderia acrescentar.

O próprio Escova reconheceu:

– O pessoal do Esporte soltou a franga. Estão (os jornalistas esportivos) em êxtase.

Além do que, acrescento, o escritor alagoano (1924/20012) anda tão esquecido…

Foi neste exato momento da conversa que Escova se põe a recitar o poema “A Queimada”, de autoria de Ivo, lindíssimo poema que agora transcrevo:

(***)

Queime tudo o que puder
As cartas de amor
As contas telefônicas
O rol de roupas sujas
As escrituras e certidões
As inconfidências dos confrades ressentidos
A confissão interrompida
O poema erótico que ratifica a impotência
E anuncia a arteriosclerose
Os recortes antigos e as fotografias amareladas.

Não deixe aos herdeiros esfaimados
Nenhuma herança de papel.

Seja como os lobos: more num covil
E só mostre à canalha das ruas os seus dentes
Afiados.

Viva e morra fechado como um caracol.

Diga sempre não à escória eletrônica.

Destrua os poemas inacabados, os rascunhos,
As variantes, os fragmentos
Que provocam o orgasmo tardio dos filólogos
E escoliastas.

Não deixe aos catadores do lixo literário
Nenhuma migalha.

Não confie a ninguém o seu segredo.

A verdade não pode ser dita.