Durmo mal. Tenho um sonho ruim, desconexo da minha realidade. Ou não?
Desperto no susto, intrigado – e perambulo pela casa até que a aflição se dissipe.
Mas, a inquietação persiste.
Qual o sentido? De onde vem o entrecho do pesadelo?
(Não sei se chegou a tanto.)
(…)
Estou, por engano ou vacilo, entre os participantes de um torneio de gente esquisita em um Clube de Luta.
O ginásio, porém, está vazio. Todas as cadeiras sem nenhum ocupante.
Só existem os lutadores. Eu, entre eles.
Não sei como, mas entendo logo que os fortões e maléficos estão sob o jugo e a proteção da Entidade e assim podem saltar e voar – um voo curto, e sem graça que treinam como a se exibir.
Enquanto isso, o Degas aqui sequer consegue sair do chão, presa que sempre sou do bom senso e do real da vida apesar de estar num sonho – e, em pleno sono, me dar conta disso.
‘É pura ficção’ – penso e nada de mal há de me acontecer.
O ginásio vazio me incomoda. Não há público, qualquer testemunha para o quê aqui acontecer.
O eu/sonhante é algo inconsequente.
O que for será…
(…)
Aguardo, resignado, a hora de entrar no tatame – e só, então, à medida em que o inevitável se aproxima – e este sempre vem -, a fila de competidores desaparece à minha frente, aí bate um incerto desespero.
‘Vixi, vou me lascar! O que vou dizer lá em casa?’
Felizmente acordo no instante seguinte em que ouço a tal Entidade anunciar o meu nome – que não era o original, mas sei que era eu – e escolher o brutamonte alado que enfrentaria.
Ufa! Escapei de uma tunda daquelas…
(…)
Pois é, meus caros…
Na idade em que estou, aparecem os tiques e as manias. Até enquanto se dorme é preciso cuidar do baticum do coração.
Por isso, passo o resto da madrugada insone a perambular pelo escuro do apartamento. Passos leves para não acordar ninguém.
Aí, sim, teria que lhes dar satisfações.
(…)
O que me levou ao delírio?
Isto não foi propriamente um sonho, foi um suplício.
Penso que penso…
Sou um cara pacífico da paz. Não vejo e não gosto de nada que induza a violência – filmes, séries, animação, HQs, literatura e afins.
Não vejo e não considero esporte saudável essas lutas que chamam eufemisticamente de “embates esportivos”.
Passo longe das páginas policiais, e mudo de canal – bendito controle remoto, que invento da humanidade! – assim que vejo esses noticiários pesados na TV.
Mal assisto ao JN e a outros congêneres para que não instiguem, com seu cinismo e parcialidade, as minhas emoções mais primárias e cruas.
O que será que me deu?
(…)
Se houver alguém, entre meus atentos e socorristas cinco ou seis leitores, que conheça a profunda ciência das interpretações de sonhos, delírios, devaneios e essas insondáveis bossas do inconsciente humano, por favor, que se pronuncie.
Prometo lhes ouvir de bom grado.
Se bem que…
No Brasil de hoje, o que nos chega do dia a dia é aterrorizante mesmo. Insufla os medos e os ais visto que os espertalhões continuam a dar seus pulinhos impunes e calhordas, protegidos por aterradora e, para muitos, misteriosa Entidade. Enquanto nós, os pacatos cidadãos, continuamos, inanimados, a enfrentar o duro pesadelo da vida real.
Não sou legal para decifrar códigos, mensagens cifradas, mistérios, charadas, cruzadas, anagramas e afins, mas pode ser isso, chouriço, pode bem ser isso.
A nova do Moska explica melhor…
Ouçam!
*(foto: jô rabelo)
O que você acha?