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Trajano, meu caro

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Pois então…

Olha que abusado que sou!

A gente se conheceu noite dessas num bar da Vila Madalena num encontro divertido com estudantes de Jornalismo que foram lhe entrevistar – e já vou me dando a liberdade de lhe fazer o mote deste meu humilde Blog.

Perdoe a ousadia!

É só pra lhe falar  – e também recomendar aos meus cinco ou seis leitores o saboroso livro que você escreveu e li, num vapt vupt de encantamento, na madrugada de sábado para domingo.

 (…)

Meu caro,

Acompanho suas andanças desde o Cartão Verde, lá nos idos da TV Cultura, depois por longos anos na Espn/Brasil (a emissora perdeu a identidade depois que saíram você, o PVC e o Helvídio) e li os livros anteriores – Procurando Mônica e Tijucamérica.

Gostei de ambos, mas este Os Beneditinos (Alfaguara, 2018) bateu fundo n’alma deste escrevinhador vira-lata.

(…)

Suas lembranças tão sensíveis alinhavadas, palavra após palavra, me enredaram em minhas próprias recordações.

Estou com 6.7, amigo.

Somos da mesma geração – ou quase.

Acho mais culto, mais determinado, mais diligente o pessoal que rodeia os 7.0 pra cima. É uma impressão que tenho, não sei… Talvez por causa de Chico, Gil, Caetano, Paulinho da Viola, Benjor e jornalistas como você, o Kotscho, o Caco Barcellos, entre outros. Sei lá, é uma impressão, como disse.

Mas, falava do livro…

(…)

… e da doce nostalgia que me proporcionou.

Lá no mais antigo dos anos, vivi situações bem próximas àquelas que você tão bem narrou.

Lembrei o Cambuci e o Ipiranga, bairros operários onde nasci e vivi; minhas andanças  nos estádios de futebol quando garoto, fosse qual fosse o jogo, junto com amigos que se perderam no tempo e no espaço;  as manhãs de domingo na várzea do Glicério ou no Distrital do Parque da Aclimação; a implicância com o clima de Fla x Flu que permeia hoje nossos relacionamentos; o desencanto com os rumos que o país vem tomando, o desencanto profundo com os rumos do jornalismo…

A saudade que arranha, mas não machuca. De todos, e de mim.

É, meu caro, como diz aquele cantador:

O tempo não para no porto/não apita na curva/não espera ninguém…

(…)

Amigo, também estudei em colégio religioso, o marista Nossa Senhora da Glória, nas quebradas da rua Lavapés, onde o diferencial, aos meus olhos de menino, era o campão de terra batida no centro dos três prédios alinhados em forma de U que comportavam as salas de aula e as demais dependências do Glória.

O campo não mais existe.

(…)

Eu era um quarto-zagueiro de respeitáveis recursos, diria. Joguei na seleção do Colégio por três anos consecutivos.

Ô saudade!

Nas manhãs de domingo, após a missa obrigatória, envergávamos o vistoso uniforme de meias e calções brancos e camisas com listas verticais azuis e brancas.

O segundo uniforme, que usávamos em ocasiões especiais, era nos moldes do Boca Juniors, todo em azul. Única diferença era a faixa branca (e não amarela) no peito.

Éramos um bom time. Tínhamos uma rixa com o Colégio Marista, de Santos. Havia outra rivalidade com o Arquidiocesano. Mas, a bronca pegava com o pessoal da Baixada. Lembro dois jogos. Empatamos em casa (com a ajuda do juiz, o nosso Irmão Demétrius) e perdemos feio no campo deles.

(Não chamaria aquilo exatamente de um campo de futebol. Dimensões reduzidas (o Society de hoje), nove contra nove, chão de areia fofa e molhada – e a gente de chuteiras de travas. Não deu pra nós.

Enfim…

(…)

Também não sei onde andam os boleiros de então – Paulo Egídio, Tozzi, Paschoal, Adaílton, Bregaro, Fernandinho e outros.

Soube que o Tonelli morreu ainda jovem. Era o nosso ponta-esquerda, de chute forte, artilheiro e boa praça.

Fiquei bem triste, na ocasião.

(…)

Esta e outras tantas viagens ao túnel do tempo, o livro me proporcionou. Momentos de enlevo e, acredite!,  amável parceria.

Obrigado, cara!

(…)

Reconheço que, nesta minha longa jornada, um tantão de sonhos ficou pelo caminho, mas, desconfio, não me arrependo dos passos e das meia-voltas que o mundo me deu e tomou.

Como você – e Os Beneditinos mostra bem isso -, não perdi o dom de sonhar.

É o que nos mantém vivos, companheiro.

(…)

Tomo a liberdade de encerrar este papo com o soneto Fidelidade, do publicitário e poeta Mauros Salles:

Somos fiéis/Aos amores impossíveis/Às vozes de ontem/Às promessas de eternidade/À mão do companheiro/Ao olhar da amiga.

De quebra, uma canção na voz da inesquecível Nara Leão.

É isso.

Abraço, José Trajano.

Vida que segue…

Até!

Foto: arquivo pessoal
1 Response
  • s
    10, novembro, 2018

    excelente!

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