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Tudo passa

Assistia à partida entre Brasil e Alemanha pela TV. Em jogo a medalha olímpica que seria inédita para o Brasil no futebol. Entre os comentários generalizados e aflições típicas de momentos assim, alguém pergunta “que tatuagem é aquela no pescoço do Neymar”.

– Está escrito o quê ali?

Bocudo do jeito que sou, respondo como se fosse um dos parcas do garoto, craque de bola:

“Nada é para sempre” – digo.

No instante seguinte, um close das câmeras de TV quebra ao meio minha pose de sabe-tudo (que nada sabe):

“Tudo passa” – eis a inscrição correta.

Tem a ver com a Marquezine? – pergunta inevitável. Mas, a maioria prefere vaiar minha intervenção anterior.

– Sabe nada, inocente!

Tento me justificar:

– O sentido é o mesmo.

Não me ouvem mais. Voltaram a se entreter com os lances da partida.

II.

Também fico em silêncio, mas não deixo de pensar na frase,

Não sei se tem a ver com a menina-atriz que foi sua namorada e a quem correu abraçar após a sofrida vitória.

Mais provável que a frase reflita um dos conselhos que o rapaz mais tem escutado desde que se tornou um dos astros mais famosos do Planeta Bola: a fama é passageira, a vida é curta – enfim, tudo passa.

III.

A sexta amanhece ensolarada, típica destes dias de outono, prenúncios da primavera que se aproxima.

Preciso de uns documentos que estão em uma caixa no quarto onde minha mãe dormia quando passava uns dias em casa.

O aposento virou o cantinho da bagunça.

Encontro logo o que procuro em uma das gavetas do armário antigo. Antes de sair, porém, percorro com os olhos o aposento e imagino os tempos em que a Dona Yolanda ficava por ali. Já estaria acordada a uma hora dessas, perguntaria pelo neto preferido e, antes que eu abrisse porta para sair, ouviria um pequeno sermão sobre a vida, faria a pergunta inevitável e despejaria a bênção:

– Carlos, está tudo bem?

– Vá com Deus!

É, meus caros, uma ausência tão presente.

Enfim…

Tudo passa.

IV.

Vamos viver um fim de semana bem atribulado com as discussões sobre o impeachment.

Pelo que vi na TV, o bate-boca entre os senadores, temo por outra demonstração do quanto tristemente deplorável tende a ser o nosso debate político.

Trata-se de um jogo de cartas marcadas.

Os de sempre querem o poder que as urnas não lhes deram.

O Brasil dá um passo atrás em termos democráticos.

V.

Toda vez que vejo repórteres, servis, a entrevistar o senador Ronaldo Caiado e que tais (que tanto defenderam o regime ditatorial), me assombra o tamanho do retrocesso.

Um dia, eles também passarão… – tento me consolar na tentativa de acreditar que ainda há esperança;

Mas, que está difícil está.

Fica a impressão de que há males que nunca acabam.