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Uahuahuahuahuahuah…

Hoje, o fantasma das 3h40 veio me acordar.
Aliás, como faz pontualmente há algum tempo.
Nem lembro quanto. Um ano, dois…

Sei não. Também não me incomodo mais.
Quer dizer, me entristece. Mas, não corrói a alma,
ou destrói o corpo. Há dias em que as olheiras ficam
mais carregadas, o corpo pesa a noite maldormida
– mas, nada de tão grave, nada que vá
além de um mero desconforto…

Houve um tempo em que o arrastar
de suas correntes me levavam ao desespero.
Verdade. E tem mais. Aparecia no visor do celular,
em meio às reuniões de trabalho, nas páginas
do livro que lia… Você não acredita?
Até email a alma penada chegou a me mandar…

“UAHUAHUAHUAHUAHUAHUAH”

Era assim que a desconjurada queria
roubar a minha paz. E roubou…

Vou ser sincero porque não sou de mentir
– ela, sim, mentia, nossa, como mentia –
ou inventar para vocês. Isso nunca.

Roubou, sim.

Hoje só me entristece, como já disse.
Mas, durante um tempo, eu fiquei tomado.
Depois do susto, veio o fascínio. Convenhamos.
não é qualquer um que tem uma mostrenga
em sua vida. Fala sério…

Não quero me gabar, não.
Mas, por algum motivo esse
encosto me escolheu…

Vou confessar. Acho que dei um molezinho.
Vacilei. Porque a ‘penadinha’ ficou toda, toda…
Ela deu de aparecer em qualquer filme,
peça de teatro, até mesmo em uma simples
cena de novela que eu assistisse…

Irreverente, dona da situação.

Dava tchauzinho, acenava, nos incluía
no enredo, mandava beijo.
Palpitava até com algum encanto…

– Uahuahuahuahuahuahuah…

Música, então. Sem comentário. Adorava
me dar altos toques. Estava em todas…

– Uahuahuahuahuahuahuah…

(Tradução: “Olha nós aqui. Tão cedo você
não vai se livrar de miiiiimmmm…)

Percebi que, por mais que disfarçasse,
e quisesse se fazer de aterrorizante,
não podia ouvir os blues do Djavan
que se derretia toda…

“Teus sinais
Me confundem das cabeças aos pés.
Mesmo assim eu te devoro.
Teu olhar
não me diz exato quem tu és.
Mesmo assim eu te devoro.”

Vocês sabem, até já escrevi aqui:
tenho uma tendência a imaginar coisas.
E logo me bateu uma idéia de que
não estava lidando com assombração,
espírito sem alma e coração desencarnado.

Me pareceu, sim, uma simpática bruxinha
do bem ou mesmo uma dessas fadas-princesas
que vivem no reino encantado
das histórias que têm final feliz…

Por favor, por favor…
Não riam dos meus equívocos. É sério…
São 5h28 e só escrevo essas mal-traçadas
porque perdi o sono…

Vai dizer que vocês também
não têm lá suas sombras e alucinações,
medos e aflições, lembranças, inseguranças e
segredos, que nem ao travesseiro confessam?

Pois é.

Se não lhes tiram o sono, sorte
a de vocês. Mas, olhem, não me aborreço
mais com a minha sina. Como já lhes
disse, não há mais pânico.

Sei quem é a Senhora das Sombras.

Descobri que só faz mal a ela mesma.
Perdeu-se nos desvãos de um mundo torpe.
Só me entristece saber que perdeu o dom da vida.
E temo que nunca encontre a paz.

Agora é minha vez de fazer…

— UAHUAHUAHUAHUAHUAHUAH