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Um breve conto de amor e fé

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Iracema, a que voou para a América, é mamãe de primeira viagem.

Espanta-se diante daquela garotinha faminta que acabara de gerar, dois dias antes.

Sente que finalmente descobrira o verdadeiro milagre da vida.

Com alguma impaciência, aguarda a alta da maternidade. Como qualquer pessoa, tem pressa em voltar para casa.

Retomar o cotidiano.

Dá-se conta que tem um novo tempo que se abre à sua frente.

Um tempo de luz, de bênçãos e… desafios.

Agradece aos Céus por tudo.

Só uma questão a incomoda – e lhe tira a paz.

Todos os hormônios que andavam a milhão a amparar a criação daquela vidinha encantada, agora, se acalmam e tratam de retomar o ritmo natural, o ritmo de antes.

O que a deixa, muitas vezes, confusa, insegura.

Pois não existe mais o tempo do “antes”.

Como será, pergunta-se.

Além do que a amamentação é sempre dolorida, difícil, com sangramentos.

A menina chora muito.

Iracema, mais ainda…

Está só – ela e a garota – em plagas distantes.

Não sabe bem o que fazer, a quem recorrer.

Faz uma oração silenciosa.

Mas, não se resigna.

Pensa no melhor para o bebê.

Decide.

Chama a enfermeira de plantão, e diz:

– Não estou conseguindo alimentar minha filha. Não quero que ela sofra, acabou de nascer. Por favor, providencie leite para ela, uma mamadeira. Eu desisto.

Iracema fecha os olhos, em pranto.

E reza baixinho.

A enfermeira sai – e volta, minutos depois. Sem o leite, com a criança. Também a acompanha outra enfermeira, com uniforme algo diferente, azulado, e com um jeito de quem já assistira àquela cena muitas e muitas vezes.

Dito e feito.

Enquanto, desnorteada, Iracema toma a criança no colo, a senhorinha chega-se próxima à cama, estende um dos braços sobre os ombros da jovem mamãe desesperada – e lhe diz com voz apaziguadora e firme:

– Minha filha, se algum dia tiver que desistir de algo, não o faça num dia ruim. As chances de se arrepender serão bem maiores. Não tire esse direito da sua filha e nem de você. Amamentar é um dom que lhe próxima do divino, uma graça. Tenha fé.

Iracema aceita o conselho.

A criança mama tranquilamente.

E assim é daí pra diante.

No dia seguinte, em paz consigo mesmo e com a vida que renascera, Iracema tem alta.

Antes de sair, porém, quer agradecer à senhora de jaleco azulado. Procura informar-se sobre ela, mas ninguém, ali, sabe lhe dizer quem é.

A própria enfermeira de plantão diz que estava sozinha quando lhe entregou o bebê para a mamada da tarde. Que também estranhou quando tudo se dera de forma tão tranquila e o tom azulado da luz dos raios de luz que entravam pela janela e iluminavam o quarto naqueles momentos.

“Foi a melhor coisa que fiz”, recorda-se ainda hoje.

– Mistério, eu lhe digo.

– Milagre, ela me corrige tantos e tantos anos depois.

 

Foto: Anísio Assunção/igreja Imaculada Conceição, no Ipiranga
1 Response
  • clarice falasca
    25, junho, 2019

    Lindo

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