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Um dia frio

Fui uma única vez a Frankfurt. Um vôo estranho que parecia nunca ter fim. As condições do tempo não eram das melhores. Saímos de Milão e demoramos uma eternidade para chegar. Mas, finalmente chegamos. Amém.

Fazia muito frio na Itália; na Alemanhã, então… Em torno de onze graus negativos. Com uma agravante. Nos dias anteriores havia sido pior. Assim que o avião aterrissou, pude confirmar a informação. Uma densa camada de neve se espalhava pelos arredores da pista. Alguém falou em 60 ou 70 centímetros de altura. Me perguntei desolado: “O que estou fazendo aqui?”

Em pleno janeiro de 98, creio; verão no Brasil e eu procurando sarna para me coçar. Ou mais apropriadamente, uma cidade frigorífico para me congelar. Que programa de urso siberiano…

Imaginei que toda a cidade estaria um caos – e me conformei com a idéia de que seria feliz se conseguisse chegar ao hotel, a calefação funcionasse e o tempo da estadia passasse o mais rápido possível. Seria ainda mais feliz quando conseguisse sair daquele fim de mundo.

II.

Já a caminho do hotel notei que, apesar da noite fria e inóspita, o táxi – um confortável Mercedes Benz – cortava uma cidade tranqüila. Havia um razoável movimento de veículos. Bares, restaurantes e lojas funcionavam como se nada de anormal estivesse acontecendo.

De fato, o único anormal tiritante ali era eu.

Até aí nenhuma novidade.

Bom, para encurtar a conversa. Tive uma bela noite de sono – e, na manhã do dia seguinte, a primeira coisa que fiz ao acordar foi olhar pela janela para ver o que me esperava. Vi que a neve dera uma trégua, mas ainda cobria toda a extensão de um parque, as margens do rio que corta a cidade e parte das calçadas das ruas, onde crianças caminhavam tranqüilamente para mais uma jornada escolar. Tinham capotes coloridos, gorros divertidos e mochilas a estampar os heróis da época.

Eram imagens belíssimas de um mundo que eu desconhecia. Imgens que fizeram com que caísse a ficha do quanto estava sendo tolo. Mesmo assim, precisei reforçar o café da manhã com uma boa dose coragem – e fui à luta.

III.

Foram dias divertidos a onze graus negativos – pouco mais, pouco menos que não fiquei de olho na temperatura o tempo todo. Até me esqueci dela.

Fiz o que tinha de fazer. E mais: perambulei pelas ruas e por aquele e outro parque, visitei museus e igrejas, aproveitei as megas liqüidações — se me virem com um sobretudo tiposo, foi lá que comprei, viu — e, à noite, me acabei em bons e curiosos restaurantes.

Ô vida. Paguei a língua.

Quando deu a hora de voltar, juro que me arrependi de ter desejado que o tempo voasse. Queria ficar mais.

IV.

Óbvio que lembrei dessa história em função do frio deste fim de semana. Que azougue. Fiquei encarapitado aqui no 19o. andar, sob diversas camadas de moletons e lã, entre um dvd e outro (porque ninguém agüenta mais ouvir falar em pan), a rezar para que o tempo vire ou a segunda-feira tarde a chegar.

Não sei o porquê. Mas tenho certeza que, ao acordar amanhã, seja qual for a cena que observar aqui da minha janela, vou continuar com uma vontade danada de continuar por aqui. Debaixo das cobertas a lembrar os dias frios de Frankfurt…

Os meteorologistas garantem que vão continuar as temperaturas baixas. Convenhamos. Enfrentar o frio para fazer turismo é uma coisa. Para enfrentar um dia de trabalho é outra… Ô vida…