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Um prefeito que deixou saudades

"Tantas opiniões há quantos são os homens" (Terêncio)

01. A notícia do agravamento da doença do governador Mário Covas deixou em cacos a alegria do Carnaval para os paulistas. Mesmo aqueles que não se alinham entre os adeptos do modus operandi do político, mesmo esses, reconhecem em Covas um homem público como raros no Brasil de hoje. É certo que nos últimos tempos andou entre arroubos e destemperos não apropriados a quem está investido pela autoridade de administrar o maior — e mais complexo — Estado da Nação. Mas, esses enfrentamentos, em praças e comícios, a grupos de manifestantes adversários, creio, deveu-se mais ao estágio em que se encontrava o cidadão Mário Covas após vencer os primeiros roundes da sua luta definitiva contra o câncer. No momento em que me encontro, disse certa vez, não tenho o direito de deixar de dizer o que penso, fazer o que acho correto, mesmo que, para isso, seja obrigado a passar por uma multidão enfurecida.

02. Foi um momento difícil da vida de Covas. Dizia que fora reeleito para governar São Paulo, e não permitiria um arranhão que fosse ao cargo que o voto de milhões, pela segunda vez, o fez, tão honrosamente ocupar.

03. Para nós de Gazeta do Ipiranga, no entanto, a imagem que temos de Mário Covas é a do prefeito de São Paulo, entre 82 e 84. Um tempo de efervescência política. Covas foi nomeado prefeito biônico pelo então governador Franco Montoro e cumpriu um mandato tampão (2 anos e 8 meses) dos mais produtivos.

04. Nossa região, não teve do que reclamar durante a gestão. Sem exagero, quase que semanalmente, o prefeito circulava pelo bairro acompanhado do vereador Almir Guimarães e do administrador regional Durval Freire. O trio, com idêntica freqüência, aportava na Redação de Gazeta do Ipiranga para prestar conta à comunidade, às SABs, do que viram e do que poderiam fazer.

05. E, olha, caro leitor, relacionando assim, de memória, não foi pouco o que fizeram. Houve a recuperação da mata atrás do Museu do Ipiranga e construção (ainda que de forma rudimentar) da primeira pista de Cooper, calçamento e pavimentação de dezenas de ruas na área periférica ao bairro, abertura da avenida Tancredo Neves, reurbanização do Sacomã, implantação das praças Monte Azul e Padre Ballint, ligação da avenida Juntas Provisórias com a via Anchieta (um sonho secular dos ipiranguistas, desassoreamento de córregos e rios da região para evitar enchentes, reforma do Pronto Socorro Municipal Ignácio Proença de Gouvea (que atendia diariamente 300 pessoas em média), entre outras conquistas.

06. Lastima-se apenas que o projeto habitacional para Heliópolis não tenha sido tocado pelo prefeitos que o sucederam, Jânio Quadros e Luiza Erundina. A proposta era transformar a região num bairro popular, com moradias padronizadas e infra-estrutura que incluía melhoramentos públicos e de serviços à população. Além do vereador do bairro, Almir Guimarães, o projeto contava com o apoio de outro vereador, um dos líderes de Covas na Câmara, o atual deputado federal Arnaldo Madeira. Uma pena que a intransigência política de alguns tenha deletado esse plano e relegado Heliópolis à condição que hora se encontra…

07. Fora essa disposição em trabalhar por uma cidade melhor, o prefeito onde quer que chegasse falava do momento político que vivíamos, do projeto de redemocratização do País e da campanha pelas Diretas para presidente, certamente o momento mais bonito da recente História do Brasil.

08.Covas seria o candidato natural do PMDB à Prefeitura em 85. A estratégia já estava montada. Afastaria-se do cargo seis meses antes da eleição, e lançaria sua candidatura. Um casuísmo de políticos governistas vetou essa possibilidade e, pior, contou com apoio de setores do PMDB (Quércia, Roberto Cardoso Alves, entre outros) que não queriam Covas prefeito. Resultado: Fernando Henrique entrou em seu lugar e perdeu feio para o redivivo Jânio Quadros. E o Brasil virou o que virou…