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Uma (quase) conversão

Assisto ao último encontro do Papa Francisco com as plateias brasileira pela TV e ao lado do amigo Poeta que, via de regra, se diz agnóstico, a favor do voto nulo e algo desesperançado com tudo o que vê e ouve pela aí.

Fico surpreso com o interesse que demonstra diante da imagem de Francisco.

O Poeta gosta de dizer coisas profundas. É bem verdade que, na fase de desalento que vive, anda distante das rimas e dos versos, mesmo assim persistem o apelido, Poeta, e a tal “formação filosófica e humanista” que o próprio alega ter e invoca seu amparo a cada momento que precisa posicionar-se sobre isso e aquilo.

“Vivemos um tempo de artificialidades”, diz o amigo, olho vidrado na tela.

E prossegue:

“O que não é autêntico, se faz efêmero, e quem se agarra ao efêmero corre o risco de acordar no vazio”.

Ao contrário do Papa, meu amigo Poeta gosta sofisticar o que diz.

Mas, não deixa de ter lá suas razões.

Penso com meus botões: será que nem o Papa escapa ao chumbo grosso do amigo.

Ledo engano.
A frase seguinte é de apoio irrestrito:

— Eis aí um homem que professa a verdade.

E mais:

— O mundo precisa de lideres assim.

O Poeta me chama a atenção para a objetividade com que o Papa busca a essência da vida. Acreditar na juventude é uma delas. Outra, tão imprescindível quanto, é a busca da felicidade.

“Tenham a coragem de se fazer felizes”, disse o Papa, pouco antes, diante de 12 mil jovens voluntários que o ajudaram a tornar “histórica e inesquecível” esta Jornada Mundial da Juventude.

Poeta faz questão ressaltá-la, diminuindo o som da TV na fala do vice-presidente Michel Temmer:

– Não preciso dizer, mas digo. Seria mais do que oportuno, necessário mesmo, que essa recomendação se espraiasse por todos os segmentos da sociedade.

Para o meu amigo, intencional ou não, a fala do papa o fez lembrar outro hermano argentino, o poeta Jorge Luiz Borges:

— Borges tem uma frase com o mesmo teor. Um tanto mais mundana, talvez; mas o endereço é o mesmo: “A gente pode tudo nesta vida. Só não pode se fazer infeliz”.

Faz todo o sentido. Concordo com os dois poetas – que heresia com Borges!!!

Aliás, outro oportuno recado papal, digo ao Poeta, pede que as pessoas se abram ao diálogo e ao encontro. Incentivem o diálogo e o encontro. Que as pessoas busquem nesses pilares o entendimento e a construção de um mundo mais justo e fraterno.

O amigo balança a cabeça. Parece concordar. Logo toma a palavra para si, sempre em tom solene.

— A bem dos fatos, as verdades que o Papa nos trouxe são nossas velhas conhecidas. É bem provável – e possível -que andassem distantes dos corações de um e de outro, por motivos diversos – inclusive, a visão personalísta que se faz mais presente a cada dia em nossas vidas.

E acrescenta, em tom conciliador:

— Tomara que – agora redivivas pela presença e luz do Papa – permaneçam entre nós, no mínimo, até 2017 quando ele prometeu retornar ao Brasil.

— Então, rezemos pelo Papa, como ele próprio pediu em suas últimas palavras por aqui, digo esquecendo por completo de que o Poeta não é católico, nem tem religião.

Outra surpresa.

O Poeta me garante:

— Irei rezar, sim. À minha maneira, mas rezarei, sim… Ele tem a humildade de um santo.