“Meu Divino são José
Aqui estou aos vossos pés
Dai-nos chuva em abundância
Meu Jesus de Nazaré”
Todo o dia 19 de março, a dona Yolanda, 88 anos, dá o tom e a inspiração para o texto do blog.
Ela tem uma rotina que, de algum modo, me comove.
A primeira coisa que faz, logo pela manhã, é telefonar para o neto, José Carlos, para lembrá-lo que é dia de São José, o santo que inspirou a escolha do nome.
— Era um homem justo, e caridoso.
Na hora do café, é o momento de recordar o tempo em que era mais jovem – e assistia à missa solene na paróquia do Ipiranga. Ao final do ato religioso, eram distribuídos os pãezinhos do santo. Que as donas de casa devotas colocavam nas latas de açúcar ou de arroz, garantindo assim provimentos para o ano todo.
Tenho uma remota lembrança desses pães, já endurecidos pelo tempo, a enfeitar os vasilhames em que se guardavam os alimentos. Depois de um ano, eram trocados e a mãe os transformava em farinha que engrossava nosso leite com café, que eu e minhas irmãs e até o Velho Aldo tomávamos em canecas.
Éramos crianças. Por vezes, acompanhávamos a mãe nessas missas festivas. Respeitosos, víamos a fila de mulheres, com véus na cabeça, recebendo o pão das mãos do padre.
Pareciam receber uma dádiva.
Desconfio até que no Dia de Santo Antônio a prática se repetia.
Não tenho certeza.
Fico na dúvida, mas resolvo não tirar a limpo a questão para não embaralhar as lembranças da Dona Yolanda, e as minhas também.
Me despeço para o longo dia de trabalho.
Antes de sair, porém, a mãe, zelosa, dá o recado de sempre.
— Deus lhe abençoe, filho.
Só acrescenta a referência ao santo carpinteiro:
— Reze um ‘Pai Nosso’ para São José. Era um homem justo, e caridoso. Não vai lhe faltar.