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Título: Em meio ao auê
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 13/06/2008
 

Ontem falei das datas comemorativas e de que forma as ditas efemérides marcam indelevelmente a rotina de um jornalista.

Houve quem duvidasse das minhas palavras.

Certamente porque nunca “cobriu” um desfile de escolas de samba. A princípio, pode sugerir um grande barato estar em meio ao auê do sambódromo.

Que tudo é festa, alegria e ziriguidum. Oba!

Ledo engano.

Para quem trabalha, é uma maratona.

Vai na concentração, ouve os bambas da escola prestes a desfilar. Acompanha a exibição. Olhos atentos aos vacilos da bateria, ao tombo da porta-bandeira, às tais celebridades, ao que de imprevisto pode acontecer. Corre para a dispersão. Vamos lá: ouvir Fulano, Beltrano e Sicrano.

Adivinhem o que eles dizem?

Inevitável.

Sempre a mesma coisa.

Na concentração:

-- Minha escola vai ganhar...

Já na dispersão muda o tempo do verbo:

-- Minha escola já ganhou...

Se está tudo nos conformes:

-- Não tenho palavras para dizer a emoção que estou sentindo...

Se algo deu errado:

-- Fomos roubados. É uma injustiça...

E há os jargões de sempre:

-- Vamos arrebentar a boca-do-balão.

-- Vamos pras cabeças.

-- É isso aí gente.

-- Samba no pé.

-- Minha escola é uma alegria.

-- Minha escola é um sonho.

-- Minha escola é minha vida.

-- Ano que vem tamos aí de novo.

E cousa e lousa e maripo(u)sa...

Isso tendo ao fundo a sonorização do evento – que, diga-se, não é das melhores – e, depois que passa a bateria, sobra só a voz esganiçada do ‘puxador’ por hora e meia a ribombar pelos ares.

“Na avenida toda iluminada,
a Imperador vai passar...
Glória da Marquesa será lembrada
em nosso eterno cantar...”

E por aí vai...

Depois de não sei quantas horas de pé, correndo pra lá e pra cá, mal alimentado, filas para ir ao banheiro, o depauperado repórter tem que organizar as informações, escrever o texto e, enfim, descansar. Breves horas, brevíssimas. Logo estará de volta para a registrar a segunda parte dos desfiles...

Nos primeiros dois, três anos, o cara não reclama. Até acha natural. É a profissão que escolheu. Mas, depois...

O pior é que há sempre um engraçadinho de plantão pra dizer:

-- Que cara de pau! La vai ele. Ainda diz que vai trabalhar...

 
 
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