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Título: O melhor amigo
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 11/11/2008
 

Ele era um brincalhão.

Ele riu ao notar algo de estranho e misterioso na amiga, de tanto tempo que voltara de uma viagem de estudos.

-- Tudo bem com você, perguntou.

-- Tudo, ela respondeu ‘no automático’.

Sempre tão simpática e algo falante, preferiu falar da semana de trabalho que ambos teriam pela frente.

Ele, o confidente de sempre, insistiu:

-- Tudo bem mesmo?

Ela respondeu com outra pergunta:

-- Por que não estaria.

-- Não sei, não. Você está com uma carinha estranha.

-- Deixa de ser bobo. O que estaria de errado comigo?

-- Esses dias todos na praia, sozinha. As coisas acontecem...

-- Havava!

Em tom de deboche, continuou a provocação. Tal qual o tataravô dos robôs, na antiga série de TV, Perdidos no Espaço:

-- Perigo! Perigo!

Ela também riu como se nada houvesse. E se fechou em copas. Procurou mudar de assunto. Falou de uma coletânea de clássicos que comprou no free shop. Passara a tarde ouvindo Johan Sebastian Bach.

-- Mas, você é muito chic mesmo, brincou

-- Você sabe o quanto gosto de música!

-- Gosta-se mais ainda quando se está começando uma paixão.

Ela fez que não era com ela. Deixou que o silêncio reinasse absoluto. Mas, qual o dom que o amigo tinha para ler o que queria confirmar para si própria.

Às vezes, quando queria, ele sabia ser chato. Insistiu:

-- E aí... Vai me contar ou ficamos assim.

-- Contar o quê...

[Será que estava assim estampado em seu rosto. Foram dias lindos, sim. Longe do estresse da cidade grande, do trabalho diário e de suas aflições. Do casamento morno...
Há tempos não se sentia assim. E agora o melhor amigo queria que conscientemente ela assumisse o que não queria assumir!]

... não tenho nenhuma novidade, além do sol, da praia, do descanso merecido que tive.

-- Então, tá. Falou tá falado.Vamos ao que se pode. Ao trabalho...

[Como lhe dizer que, nesses dias distantes, imaginou alguém ao seu lado que a fizesse rir, sonhar. Que lhe contasse histórias fantasiosas – e falasse mal dessas modernidades. Do celular, do notebook. Que ousasse assobiar aquela velha canção do Roberto:

“Além do horizonte deve ter
Algum lugar bonito pra viver em paz”

Como dizer ao melhor amigo, que ele era o homem da sua vida!]

 
 
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