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Título: Sonhos e enroscos
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 04/02/2011
 

O amigo não está nada bem.

Põe-se a lamentar que os jovens não querem nada com nada.

Tudo o que fazem é viver o tríduo pré-balada, balada e pós-balada.

Não verdade em seus relacionamentos.

São presas fáceis para monumentais enroscos que não levam a nada.

E nesse descalabro ele não faz a menor idéia do que nos reserva o futuro.

Não lhe digo nem sim nem não.

Por trás de todo esse desencanto, desconfio, está a moça que lhe prometeu vir e não veio.

Nada como um retumbante fora para nos fazer o paladino da justiça e do amor.

Ademais, não quero – e não devo – por a mão nessa cumbuca.

É bem verdade que, por vezes, estranho certos comportamentos da rapaziada.

A música, por exemplo.

Acho deplorável.

O batestaca da construção aqui ao lado é bem mais suingado do que a música que dançam. Se é que se pode chamar, aquele faniquito de dança.

Enfim...

Acho mesmo que sempre foi assim.

Lembro o dia em que o pai me surpreendeu arranhando, ao violão, um clássico dos seus tempos de juventude.

Ele ficou horrorizado com a versão rock’n’roll que fiz para “Besame Mucho”.

Ouvi poucas e boas.

À época, eu era o jovem e aquele era um bolero sagrado para o pai.

Meu Velho sempre foi um inveterado romântico – e santo, santo, ele nunca foi.

Mas, fosse qual fosse o motivo, hoje eu reconheço: ele tinha toda a razão.

Eu desafinava até na pausa para a respiração.

Quanto aos relacionamentos, como eram, como deixavam de ser, hoje não é o melhor dia para comentar.

Naqueles idos, nós, os jovens, amávamos – e como amávamos – loucamente as inalcançáveis atrizes de cinema.

Uma cena do filme me é cara, inesquecível. É do filme O Passageiro – Profissão Repórter, de Michelangelo Antonioni.

Não lembro se é a tomada final, mas é belíssima. A câmera se fixa no rosto deslumbrante da menina quase mulher que está no banco traseiro do velho carro conversível, dirigido por Jack Nicholson.

Ela volta-se para a câmera e enquanto o carro segue só o seu rosto enche a tela de sedução, malícia e mistério.

Desnecessário dizer que me apaixonei perdidamente por Maria Schneider.

Soube agora da morte da atriz.

Me sinto um tantinho viúvo dos sonhos e enroscos juvenis que não levam a nada.

Mas que, por vezes, são a essência da vida.

 
 
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