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Título: Histórias de Adoniran (2)
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 05/06/2011
 

Cumpro hoje a promessa que lhes fiz.

De contar a história de Adoniran que ontem me escapou.

Seguinte:

No início de carreira, Adoniran costumava frequentar os chamados “dancings”.

Dancings eram lugares onde a rapaziada literalmente pagava para dançar.

Explico aos mais jovens.

Era um salão com uma portentosa orquestra e um cast de dançarinas que ficavam à disposição dos cavalheiros, mediante à apresentação de tíquete que o pimpão comprava assim que chegava ao local.

De acordo com as posses e o interesse, lá ia o rapaz para uma, duas, três contradanças com a deusa da pista que mais lhe aprouvesse.

Antes de qualquer coisa, convém registrar que a coisa parava por aí mesmo; digamos, no aspecto lúdico e glamouroso da dança.

Se mais houvesse entre o casal, não era de responsabilidade da casa.

O fato é que o jovem Adoniran divertia-se a valer nesses volteios de aluguel.

Só que na base do dois pra lá, dois pra cá foi inevitável a súbita paixão por uma das dançarinas.

Para não perder o freguês ou apenas e tão enigmaticamente por ser mulher, ela não dizia que sim, mas também afirmava que não.

Talvez, quem sabe, pode ser, vou pensar...

Qual marmanjo não se perdeu nesse lusco-fusco de promessas vãs?

Para incrementar o possível romance, Adoniran usou sua arma mais decisiva.

Em meio a um bolero, devidamente ticado no guichê, ele não deixou por menos:

--Vou fazer uma canção para você...

A moça sorriu. Mas, nem por isso, mudou de comportamento.

Continuou nas noites seguintes tão indiferente aos convites de Adoniran quanto antes.

Mesmo assim, o compositor falou mais alto – e cumpriu a promessa.

Em uma noite, surpreendeu a dançarina lhe entregando, em mãos, os versos do samba que fizera em sua homenagem. Em breve estaria nas vozes de Os Demônios da Garoa, e ela poderia derreter-se toda ao ouvi-lo.

Era assim que gostaria de eterniza-la.

O samba chama-se “Iracema”, aquele que a amada morre atropelada (“veio um carro, te pega, e te pincha no chão”) e ainda toma uma carraspana:

“Eu falava, mas você não me escutava não.
Iracema você travessou contramão.”

(Convenhamos. Foi uma ingênua, mas deliciosa vingança.)

 
 
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