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Título: Surtei, doutor...
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 19/03/2015
 

Doutor, doutor, me ajude, eles não me entendem, doutor; me ajude, eu não sou petista, não, juro; nunca fui e, humildemente lhe digo, doutor, nunca serei; também não sou tucano, nem de direita, nem de esquerda, nem de centro; aliás, não sou nada, nunca serei nada, mas trago em mim todos os sonhos do mundo (já ouvi isso em algum lugar)...

Eles não me entendem, doutor, querem que eu vá as manifestações, que eu bata panela, que eu leia as colunas do Reinaldo Azevedo, que eu veja o Arnaldo Jabor na TV, doutor; assim eu não aguento, querem que eu decore os editoriais do Estadão; doutor, doutor me ajude, socorro...

Tem mais, doutor, tem uma coisa que está me agoniando, doutor; eu sempre estou do outro lado, doutor; como assim?; do outro lado, doutor; antes eram os petistas que me pentelhavam porque votei no Covas (em 89) e depois passei a anular o voto sistematicamente; meus amigos petistas ficaram fulos da vida; caíram de pau em mim, que eu era isso, aquilo, um alienado, um irresponsável...

Eu não gosto dos tucanos, doutor; não, os bichos, os caras do PSDB; eu dizia: eu não votei no FHC, mas os petelhos não acreditavam e continuaram me exorcizando publicamente, pegavam no meu pé direto, falavam da compra dos votos para a reeleição, das privatizações, dos escândalos nunca apurados, da subserviência aos ditames internacionais, da carestia, do desemprego, 19 por cento, nunca vou me esquecer de tanto que malharam nos meus ouvidos e que eu era culpado e se não tinha remorso, doutor; logo eu que estudara na USP que deveria ter essa visão de justiça social e tal e coisa; eu não passava de um burguesinho alienado...

Ah, doutor, como sofri!

Pensei que essa coisa toda havia passado; com os resultados do governo Lula parecia que tudo caminhava bem; só que peguei gosto em votar nulo, mas até reconhecia valor nos primeiros passos do homem de barba; da inserção social dos desvalidos, aquela coisa toda; mas veio o mensalão, o petrolão, o trensalão; ops, o trensalão, não, que é dos tucanos; e eu continuei na minha; sou assim, tenho direito de ser assim, um anarquista inofensivo que só faz mal a sim mesmo (ops, essa também ouvi em algum lugar, foi na crônica do Carlos HeitorCony)...

De repente, me vejo outra vez no pelourinho, só que do lado contrário; umas pessoas bonitas, fofinhas, bem de vida, me cobram que eu vá à passeata que não sai do lugar, que eu me manifeste, bata panela; me ajeite lado a lado com o João Dória Júnior e faça um selfie; cada um cada um, respeito as opiniões contrárias; mas estou bem assim, assumo, me deixe aqui no chão...

De uns tempos para cá, passaram a me chamar de petista-petralha, de filho de Cuba (ops, adoro aquele país); de quadrilheiro, olha o exagero, logo eu; está insuportável; querem me fazer petista só por eu achar que os jornalões e a mídia global conspiram; é o que penso; mas eu não sou petista; também não voto na turma do berlusconi júnior, dá pra entender?

Não sei mais qual é a saída, doutor...

Ontem, eles me chamaram de chapa branca.

Aí foi demais...

Surtei, e preciso de ajuda, doutor.

 
 
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