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Título: Sobre as Diretas-já
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 08/09/2016
 

Sou um remanescente da geração que ‘barulhou’ o Brasil com a mobilização das Diretas-Já.

Explico.

Não fui propriamente um audaz militante, mas creio que, como jornalista, cumpri meu papel naqueles idos em que a democracia era o sonho mais do almejado dos brasileiros.

Meu primeiro livro “Às Margens Plácidas do Ipiranga”, lançado em 1997, traz uma compilação de crônicas que escrevi naquele período (entre novembro de 1983 até janeiro de 1985, quando o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves, o primeiro presidente civil após 21 anos de arbítrio e prepotência)

O que veio depois hoje é História.

II.

Diante dos fatos que ora vivemos e a possível retomada do mote da célebre campanha, mercê da ilegitimidade do atual governo, aproveitei o feriado para repassar algumas páginas do livro e a comparação me foi inevitável.

Há pontos comuns como a repressão policial, o fio da navalha da situação econômica, a não representatividade de quem hoje ocupa a Presidência, entre outros – e amplas diferenças. Vivemos em um mundo hoje embalado pela tecnologia e o imediatismo das redes sociais, com um debate amplamente favorável a temas como igualdade, diversidade, meio-ambiente e respeito aos legítimos direitos de todo e qualquer cidadão.

As redes sociais e a internet movem o mundo. Caminho sem volta, e estamos conversados.

III.

No entanto, a abertura do livro me chamou a atenção. O texto que então alinhavei me parece bem apropriado e, incrivelmente, justo para os nossos dias.

Tomo a liberdade de transcrever aqui os três primeiros parágrafos:

(...)

“O povo não é bobo... Fora, Rede Globo...”

Sábias as lições que a vida nos ensina. A que narro a seguir foi uma das mais encantadoras. A então aprazível Praça da Sé assistia comovida aos preparativos para a segunda manifestação oficial pró-diretas em janeiro de 84, quando chegou a equipe de reportagem da TV Globo. Até aquele momento, a emissora do Dr. Roberto Marinho hesitava em reconhecer o alarido das ruas e praças pelo direito do povo escolher, por voto direto, o presidente da República. Vivíamos a agonia de um período trágico de autoritarismo. Mesmo assim, até aquele histórico 25 de janeiro, os telejornais da Globo teimavam em ignorar a grande mobilização nacional que fermentava... Ali, na Praça de todos os paulistanos, arrebatada por centenas de milhares de corações ansiosos por novos dias, os senhores globais puderam constatar uma estoica realidade, com ou sem o beneplácito das suas imagens. Pior: logo que os técnicos começaram a espalhar a parafernália de equipamentos para mais uma das suas superproduções, o povo percebeu o oportunismo da manobra e os brindou com o refrão em epígrafe.

Afinal, mais do que a notícia, agora se arvoravam a donos da verdade. Lembrei-me do fato assim que comecei a reunir para esse livro, causos, personagens e histórias que marcaram meus 20 anos de jornalismo. Explico a razão: o movimento das diretas-já foi de uma luminosidade rigorosamente solar. O ápice - creio - de uma geração. Acreditei, com entusiasmo juvenil (apesar dos meus 33 anos), nos ideais que as Oposições (grafava-se assim mesmo com letra maiúscula) pregavam. Era o caminho que todos nós mapeávamos para o País sair daquele estado de calamidade social e humanística.”

IV.

Nós, jornalistas, embalamos por inteiro esse sonho – e não me arrependo. Estávamos em total sintonia com os anseios da nossa gente. Enquanto isso, o veículo de comunicação mais poderoso do País ficava enclausurado, enredado em seus compromissos ultrapassados de preservação do pérfido sistema vigente. Uma barra que, aliás, àquela altura, ninguém de bom senso gostaria de segurar.

 
 
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