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Meu violão

Não tive vida fácil como tocador de violão.

Decididamente, não reúno o menor talento para coisa.

Me empenhei o máximo que pude.

Sem grandes avanços.

As aulas de teoria musical, eu as achava chatíssima. Assim como aqueles exercícios para melhorar a destreza das mãos.

Mudei de professor duas ou três vezes. Até que um deles, o Porfírio, entendeu o que eu queria.

Foi direto ao ponto.

Passou a me ensinar algumas harmonias de canções mais fáceis para que eu tocasse e – pasmem! – e cantasse.

Vou lhes confessar: diante da minha insegurança e total falta de aptidão para coisa, fazia sessões solitárias, trancado no meu quartinho ou, quando não havia ninguém em casa, ia para a cozinha que, acreditem, tinha uma ótima acústica.

Assim que descobri algumas publicações que traziam as letras cifradas das canções que gostava, não tive dúvidas: abandonei o Porfírio que, de resto, já havia desistido de mim há tempos, e insisti por anos a fio nessa toada.

Um dia talvez a coisa engrenasse…

II.

Meu primeiro emprego foi em uma loja de discos.

(Acho que já contei essa história em algum post que ser perdeu no tempo)

Lá conheci o Diogo, também lojista, que tocava em um grupo de bailes e, vez ou outra, se apresentava em um bar na periferia de São Paulo.

Nesse mês e meio que andei por lá, o Diogo me presentou com uma lista de canções devidamente harmonizadas para que eu tocasse no violão. Foi o tempo de “Eu te amo”, de Roberto Carlos, e da indefectível “Última Canção”, de Paulo Sérgio. Também aprendi um sucesso do cantor Luiz Fabiano que se chamava “Se Você Se Arrepender”.

Eu adorava cantar essas canções para desalento de meus familiares e dos vizinhos.

De qualquer forma, não foi por falta de vontade e/ou empenho que não vinguei como violonista.

III.

Insisti nessa ‘brincadeira’ até perto dos 30 anos quando a vida me tirou para dançar na famosa roda-viva dos afazeres cotidianos.

Aos poucos, fui deixando o violão de lado. Até que o abandonei de vez.

Um belo dia, estava na velha redação de piso assoalhado quando um funcionário da casa, o Welton, falou que sua menina queria muito seguir carreira de cantora. Pediu ao pai um violão, mas ele lamentou que, naquele mês, não lhe sobrara nenhum centavo do salário e, assim, teria que adiar o sonho de vê-la tocar e cantar.

Ouvi calado a história do Welton. Mas, na hora do almoço, fui para casa e passei a mão no violão e, com capa e tudo, o entreguei ao amigo que ficou agradecido e feliz.

– Esse violão ganhei do meu pai quando criança. Tem uns bons aninhos, mas, para ela aprender os primeiros acordes, acho que está de bom tamanho.

IV.

Não estava.

No dia seguinte, todo sem-graça, o Welton me confessou que a filha ficou feliz e triste ao mesmo tempo.

Como assim? – perguntei.

– É que, quando ela viu eu chegar com o violão, os olhos dela brilharam. Mas, assim que tirou a capa, viu que o instrumento estava todo estragado. Faltavam cordas, estava todo riscado e havia até um rachado em seu bojo.

Juro que não fazia ideia do quanto aquele pobre Giannini sofreu em minhas mãos. Mesmo assim, não perdi a pose.

– Eu disse que era para ela ensaiar os primeiros acordes. Depois eu lhe compro um novinho…

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