– Alô.
– Alô.
– Fala Pedrão…
– Eu não me chamo Pedro.
– Como assim?
– Assim, oras. Não me chamo Pedro.
– Deixa de brincadeira, Pedrão. Fala aí. Vai no jogo? Me dá carona?
– Não lhe dou carona, não vou no jogo, nem de futebol gosto – e não me chamo Pedro.
– Ô, Pedrão, quanto mau humor logo cedo, no Dia dos Namorados! Já sei, brigou com a Tatiana? Relaxa, cara. Mulher, patrão e cachaça em qualquer canto se acha. Ó, depois do jogo, a gente vai pro Bar do Adoniram – e se ajeita por lá. Topa?
Tuim, tuim, tuim, tuim…
– Alô.
– Você de novo, não!
– Desliga, não, Pedrão, desliga não. Só retornei pra lhe dizer que você é um ingrato. Pega a sua carona e…
– Meu senhor, por favor, vê se entende de uma vez por todas: eu não me chamo Pedro. Entendeu, me deixe em paz.
– Não chama Pedro, como assim? Tem certeza?
– Uma das raras certezas que tenho na vida é esta. Eu não me chamo Pedro. Ok? Valeu, tchau.
– Não sei, não sei, Pedrão. Você sempre foi um cara bipolar. Uma hora diz uma coisa, outra hora diz outra. Assim como o Messi, você não é um cara de personalidade forte. Vamos pro jogo que essa questão existencial, sou ou não sou o Pedrão velho de guerra, logo passa.
(Ouve-se soluços do outro lado, um estampido e ruídos generalizados, como se um corpo caísse ao chão.)
– Pedrão, Pedrão??? O que você aprontou dessa vez, amigo?
Tuim, tuim, tuim, tuim…
Desistiu de ligar e, pela primeira vez, lhe ocorreu que talvez – talvez – tivesse ligado para o Pedrão errado. Talvez não fosse mesmo o Pedrão.
– Será que foi engano?
De qualquer forma, tratou de apagar o número da memória do celular e foi pro futebol de busão mesmo. De certo mesmo, é que cortaria a amizade com o Pedrão.
“Isso é coisa que se faça com um amigo de tantos anos? Não perdoo, não”.