Sabem como são “os acima de 60”, espécies em extinção, a qual orgulhosamente pertenço. Gostam mão apenas de narrar os fatos que viveram ou não, mas também, e principalmente de comentá-los.
Comentá-los ao sabor da própria memória, vale frisar. E aí é que está a graça da coisa toda.
Como bem escreveu a espetacular cronista Rachel de Queiroz… Melhor seria dizer como bem “ensinou” a escritora, memória não raras vezes é sinônimo de mentira.
Pois então…
Escrevi ontem aqui sobre a música de Paulinho da Viola, “Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida”, e que a ouvi pela primeira vez em uma das eliminatórias de um festival chamado Feira Permanente da Música Popular Brasileira. Era uma realização da TV Tupi, com direção de Fernando Faro, quando tinha 19 anos. Em 1970, portanto.
Não só escrevi e, lógico, comentei com alguns amigos, com ares de profundo conhecedor dos bastidores da música popular brasileira.
Ninguém sequer ouvira falar da tal Feira. Alguns conheciam a história do sambaço de Paulinho. Outros se mostraram indiferentes à história. Mas, todos – ou quase todos – caíram de boca na data em que a canção foi lançada e que, por consequência, o festival foi realizado.
Discussão tola. Mas que me deixou intrigado.
Uns lembravam o retumbante sucesso do samba e de tê-lo cantado à vera durante as comemorações da Copa de 70.
(Sim, caríssimos, tenho bons amigos que juram serem cantores, e dos bons. Não dou o meu aval, mas também não os crítico. São meus amigos, afinal.)
Como o Mundial foi em junho de 1970, a Feira teria sido entre o final de 1969 e o início de daquele santo ano.
Quando disse, na roda de amigos, que o Festival não terminou por questões políticas, teve apenas quatro eliminatórias – duas vencidas por canções de Jorge Ben Jor (“Que Maravilha” e “Bebete Vambora”) e duas de Paulinho da Viola (“Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida” e “Nada de Novo”) -, alguém lembrou que talvez fosse em 1968, quando se baixou o tacão do AI-5, em 13 de dezembro.
Pode ser.
Faz sentido também.
“Bebete Vambora” está no disco que Ben Jor lançou em meados 1969. Como as músicas obrigatoriamente precisavam ser inéditas para serem inscritas na Feira, óbvio que…
“Óbvio que vocês deveriam procurar no Google” – disse um jovem que ouvia nossa portentosa discussão.
Como há enxerido nesse mundo, pensamos todos.
Se fosse para consultar o Google, o que sobraria para fazermos naquele maravilhoso momento de ócio criativo?
De qualquer forma, a conversa acabou ali…