(Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/ Santos FC)
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Meu caro Poeta
Meus raros leitores…
Havia me comprometido que hoje ainda conversaríamos na esteira do post de ontem.
Porém, e hoje tristemente existe um porém, sou obrigado a adiar o nosso papo para fazer o registro e lamentar o falecimento, nesta segunda, de duas personalidades que foram marcantes na minha infância e – por que não? – na minha formação como inveterado sonhador: o cantor Demétrius e o craque Coutinho, o imbatível parceiro de Pelé.
Entendam!
Notícias como essas me quebram a alma. Tenho vontade de me isolar num canto da casa e, ali, ficar. Eu e minhas lembranças.
Meu apelido era Tchinim, mas me imaginava um roqueiro famoso, assim como o Demétrius. Quando não, era um craque de bola, um artilheiro que, como Coutinho, jogaria ao lado de Pelé nas seleções paulista e brasileira.
Como os amigos podem ver, desde criança tenho uma tendência a ficar imaginando coisas.
Olaiá.
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Demétrius foi um dos pioneiros do rock no Brasil. Veio antes da Jovem Guarda. Ao lado de Ronnie Cord, dos manos Toni e Celi Campelo, de Sérgio Murilo, Wilson Miranda e Carlos Gonzaga, abriu e pavimentou o caminho para o posterior e retumbante sucesso de Roberto, Erasmo & Cia.
Antes deles, Demétrius enfileirou sucessos como “Corina”, “Rock do Saci” e a eterna “Ritmo da Chuva” que ainda hoje, quase 60 anos depois, toca aqui e ali.
Era o Elvis brasileiro – todos se diziam, mas acho que foi ele quem chegou mais perto. Com seu impecável topete, voz empostada e pinta de galã.
Ainda emplacou um sucesso tardio, mais para o fim dos anos 60 – “Eu Não Presto Mas Eu Te Amo”, de autoria de Roberto Carlos – e depois desapareceu dos holofotes.
Demétrius tinha 76 anos.
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Coutinho foi o camisa 9 da mais incrível linha de atacantes do futebol de todos os tempos – Dorval, Mengalvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
Era um assombro vê-los em campo. Um delírio.
Nós, os garotos suburbanos da rua Muniz de Souza (no Cambuci) íamos a todos os jogos do Santástico (aquele, sim) quando a partida era no Pacaembu (menor de 12 anos não pagava entrada).
O mais curioso é que não havia, entre nós, nenhum torcedor do Santos. Palmeirenses, corintianos, são-paulinos e até o André, torcedor da Lusa, queriam mesmo era ver Pelé e Coutinho em campo, infernizando a vida dos adversários com tabelinhas inesperadas e gols preciosos.
Queríamos mesmo ver de perto – e aprender.
No dia seguinte, no campinho da rua Piaí ou no barrancão do Jardim da Aclimação, em pegados rachas, tentávamos em vão imitá-los.
Eram outros tempos, é verdade. No estádio, ficávamos todos juntos nas arquibancadas e, dentro das quatro linhas, o futebol brasileiro era fonte de encantamento e arte.
Perder ou ganhar não importava. Valia a festa!
Inesquecível Coutinho, morreu aos 74 anos.
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Tantos anos depois tento preservar – para o bem e para o mal – a tendência de ficar imaginando coisas. Pelo adiantado da hora, talvez não devesse. De qualquer forma, hoje, ao reviver essas doces lembranças, o garoto Tchinim não devaneou. Diria que se sentiu ao desamparo e bem mais solitário.
O que você acha?