Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
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Meus claros e preclaros,
este post/crônica contém alta dose de ironia e outro tanto de profundo desalento.
Espero que me entendam.
Explico:
Sempre tive a sincera impressão de que o momento propício para aspirantes a ditadorezinhos de quinta, caudilhos, verdugos, ilegítimos e assemelhados mais se assanham é exatamente em datas assim, como o 7 de setembro, repleta de efúvios cívicos e pseudamente libertários.
Vamos ao texto de hoje.
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Eu modestamente o intitulei de:
O 7 de setembro e a bandeira americana
Penso escrever poucas linhas na manhã desta plúmbea segunda-feira, 8 de setembro.
Lhes dou ciência, de imediato, que assim o faço tomado por nauseabunda ressaca provocada não por causas etílicas, visto que não sou chegado à beberragens diversas (antes fosse!), mas, sim, por questões, diria eu, de fórum pessoal e intransferível.
Sou um sentimental, amigos.
Um senhor de idade provecta que, imaginou, já ter visto tudo (ou quase tudo) nesta longa estrada da vida.
Como tal, ressalto, não pude escapar à sobrecarga de emoções que me propiciou assistir, pela TV, às cenas dos 40 mil patrioteiros que ontem tomaram alguns quarteirões da avenida Paulista. Lá foi estendido, em nome de um novo/velho tempo, o amplo bandeirão dos Estados Unidos, dando vivas ao Senhor de Todos os Impérios para que o Magnânimo Ianque Topetudo venha, de um jeito ou de outro, nos salvar da inconsolável ‘tirania’ do STF, do algoz Xandão, de Lula e de outros quetais.
Socorra-nos!
Help. Help.
Que venham novas sanções, novos fuxicos, novas manobras.
Por falar em manobras, quiça, aguardemos alguma frota da Marinha de Guerra dos EUA a rondar ameaçadoramente nosso extenso litoral…
Assim, na truculência, no manda quem pode e obedece quem tem juízo, poderemos, enfim, “ver contente a mãe gentil, pátria amada, Brasil”.
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EM TEMPO
Amigos, permaneço no tema das tiranias, ontem sobejamente abordado pelo nosso taumaturgo governador que, por um lapso, compareceu ao evento sem ostentar o brioso boné de apoio a Donald Trump, que pena!
Pois, então…
Em vista de tal assunto, recordo-me agora que faz algumas semanas eu li a coluna do Ruy Castro, na Folha/Uol, cujo o título (apropriado para o dilema do momento) era:
Qual sua ditadura predileta?
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Permitam-me transcrever parte da reposta à questão do insigne jornalista e escritor:
“Depende da ditadura” – escreveu Ruy, usando e abusando de notória ironia.
“A do STF é um suplício em que o acusado —digamos Bolsonaro— responde em liberdade e cercado de advogados a uma série de investigações e interrogatórios, tendo até o direito de ficar calado. Denunciado pela PGR, é submetido a um longo processo criminal composto de declarações de testemunhas, todas que ele puder arrolar. Tornado réu, ele pode apresentar requerimentos complementares, solicitar novas diligências e, como a apoteose no teatro, expor suas considerações finais. É uma tortura que se arrasta por até dois anos, acompanhada passo a passo pela TV. Por fim, se for condenado, sempre poderá beneficiar-se da prisão domiciliar e dormir de pijama em seu lar.”
Ou a outra:
“A ditadura militar era mais rápida. O sujeito se apresentava para depor ou era apanhado em casa. Metiam-lhe um capuz e ele desaparecia ou era suicidado num porão a poder de tortura”.
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Qual nosso governador prefere?
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O que você acha?