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Na Avenida Paulista…

Região em frente ao Masp neste domingo, 21 de setembro (Foto: Arquivo Pessoal)

“Atos gigantes contra o PL da Anistia e a PEC da Blindagem, como em São Paulo, no Rio e em Salvador, deixam claro que o perdão a quem tentou golpe de Estado ou desviou emendas parlamentares não vai pacificar o Brasil, mas incendiá-lo. Aqueles que se apresentam como bombeiros, buscando o autointitulado “meio termo da razão”, na verdade, apenas alimentam a indignação da parcela da sociedade que crê na lei” Blog do Sakamoto, UOL

A Avenida Paulista estava numa tarde das mais bonitas ontem.

Domingão ensolarado, temperatura na faixa dos trinta graus e quequérecos, e uma representativa multidão a zanzar em todos os sentidos ao som da palavra de ordem:

“Sem Anistia”. “Sem Anistia”. “Sem Anistia”.

Dos alto-falantes do sistema de som, ouviam-se os discursos em defesa da democracia, pelo fim da famigerada PEC da Bandidagem, pelo legítimo direito dos brasileiros em dar conta do próprio destino e a cadeia para os golpistas de ontem, de hoje e, lamentavelmente, de sempre.

Eu lá estava, junto com os meus, movidos nós pela singela esperança da construção de um Brasil para todos os brasileiros.

Na boa, meus caros e preclaros, não eram essas as cenas que gostaria de vivenciar na atual fase da minha longa e sinuosa estrada. De tantos e tamanhos enganos, mas também – e reconheço – tantas e tamanhas bênçãos e graças.

Sou um homem simples, como os amigos bem sabem, do bairro operário do Cambuci. Cresci em meio à italianada, os amigos do pai, a falar dos horrores do nazifascismo, das misérias humanas e sociais que grassaram na Itália pelo enorme equívoco de prostrarem-se, povo e instituições, às soberba e vontade de um insano e histriônico ditador de quinta categoria.

Não era hora, pois, de ficar em casa neste momento crucial em que semelhantes ameaças rondam o Brasil e o mundo.

Mas, convém nos ater ao Brasil, que é o nos cabe primordialmente.

Enquanto caminhava em meios às pessoas – registre-se que de todas as idades – ruminava comigo algumas lembranças de outras jornadas.

Perdi nos desvãos da memória, a vez que fui em uma manifestação como a de ontem.

Trinta, quarenta anos atrás?

À época das Diretas Já, creio.

Seguramente, sim. Estava, por exemplo, no comício de 24 de janeiro de 1984 na Praça da Sé, histórica manifestação, o lado de amigos como o Nasci, o Clamic, o então vereador Almir Guimarães.

Era um jovem repórter, algo sonhador, diria.

Talvez tenha ido a alguma outra manifestação no gênero e igualmente distante no tempo.

Sinceramente, não lembro.

Sei que ontem estava lá – e sem minha credencial de Imprensa – como cidadão, e só.

Eu e meus questionamentos insolúveis.

“Como chegamos a essas tenebrosas transações que hoje nos inquietam?”

Do sistema de som, chega-me a (quase) resposta na voz do deputado federal Vicentinho, companheiro aqui, de São Bernardo do Campo.

Ele propõe um questionamento ao público:

“Sabem quantos deputados de origem trabalhador ocupam cadeiras na Câmara Federal?”

Ele mesmo responde:

“Quatro companheiros, apenas.”

Outra pergunta:

“Sabem vocês quantos deputados representam o setor empresarial?”

Segue a resposta:

“Trezentos e quarenta. Sem contar, os centos e tantos que defendem o agro.”

Lembro de imediato meu pai, o Velho Aldo, a recomendar aos amigos:

“Trabalhador vota em trabalhador.”

Faz todo o sentido.

Inevitável o desconsolo diante da situação.

..

Dura pouco meu momento de desânimo.

Ao meu redor, surgem gritos e vivas de “Erundina, Erundina, Erundina”, aplausos e se vê até um breve tumulto, ali, ao redor do Parque Trianon. Apuro o olhar e vejo, algo emocionado, os passos intrépidos da senhorinha de 90, a deputada federal Luíza Erundina a nos ensinar que a hora é de acreditar – e seguir na luta por um Brasil de todos os brasileiros.

Sem anistia!

Pelo fim da PEC da Bandidagem!

Democracia sempre!

TRILHA SONORA

Gonzaguinha completaria hoje 80 anos.

Amanhã, escrevo sobre…

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