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O mestre, o fotógrafo e a luz do Ipiranga

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Foto: Jô Rabelo/Arquivo

Nasci era o mestre de todos nós.

Não que sua palavra fosse lei – mas, ele entendia do risque e rabisque da vida.

Éramos, como já disse aqui, repórteres jovens, cabeludos e algo inconsequentes na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, no histórico bairro do Ipiranga, São Paulo, Brasil.

O Nasci, não. Tinha uma história de vida legal. Começou como radioator, ajudou a implantar a programação vespertina na TV Record, virou produtor do Blota Júnior Show (uma espécie do programa do Jô dos anos 60) e do Sábado Com Você, apresentado por Sônia Ribeiro (um pouco a Angélica dos tempos atuais). Foi publicitário e cousa e lousa e maripo(u)sa.

Quando aportou como colunista no jornal, com o codinome de Zé Armando, já era o cara.

Falava – e ouvíamos.

Quase sempre era assim.

Como naquela tarde em que o repórter fotográfico Cláudio Michelli procurava o melhor ângulo para fotografar um entrevistado qualquer. Andava daqui e dali, enquadrava, desenquadrava, ameaçava usar o flash, desistia…

Vendo a sonsa dança de pavão que o Clamic exibia, o Nasci resolveu palpitar.

Deu uma baforada no indefectível cachimbo, e dissertou por minutos sobre o que deveria ser feito para melhor aproveitamento da luz natural que entrava por um dos janelões.

Clamic deu de ombros para as ponderações do mestre. Que, teimoso que era, insistiu em vão.

— O fotógrafo aqui sou eu, respondeu o Clamic, não raras vezes alcunhado de “pavio curto”.

— Vai por mim, reiterou o Nasci.

— Não vai dar certo.

Os repórteres curiosos silenciaram o inefável toc_toc_toc das máquinas de escrever diante do impasse.

Vem ‘pega’ bom por aí – intuímos, cada qual a seu modo, sem nada dizer.

O embate eclodira – era hora de assistirmos, de camarote, o épico desfecho.

Que se deu, acreditem, de forma surpreendente.

— Ora Clamic, eu sei o que estou falando. Montei e desmontei iluminação de estúdios centenas de vezes. Você sabe, trabalhei na TV Record na fase áurea. Eu estive lá…

— Pois é. Por isso mesmo. Se fosse tão bom como diz, estaria lá até hoje.

Nem o Nasci conseguiu conter a gargalhada.

Aplaudimos o xeque-mate do Clamic, demos por encerrado o litígio e voltamos à lida e à sinfonia das nossas encandecidas Olivettis.

TRILHA SONORA

* RECUPERO e atualizo a crônica antiga (de 01/10/2011 – Eu Estive Lá…) para tentar melhorar o astral da semana que tem sido de bem triste. Espero que me entendam…

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