Foto: uma das versões da suposta camisa da seleção que vazou nas redes sociais
…
Nota da CBF esclarece:
“As imagens de uma suposta camisa vermelha e preta da Seleção Brasileira divulgadas não são oficiais, reforçando que detalhes do novo uniforme para 2026 ainda serão definidos com a Nike.”
…
Não quero deixar passar a oportunidade de surfar nas águas turbulentas dessa vã polêmica.
Senão, vejamos…
Dou de barato que, em algum canto do mundo, em gabinete arejado da multitentacular empresa Nike, tem um executivo de marketing, com ares de gênio criador, a sorrir de orelha a orelha com a lorota plantada de que a seleção brasileira, a outrora imponente seleção canarinho, jogaria de camisa vermelha em um ou outro jogo da Copa de 2026.
Heresia das heresias.
Há alguns dias, um site especializado de amplitude internacional divulgou tal notícia e começou o bafafá em plagas nativas. Inicialmente soube-se que a camisa n° 2 do escrete não seria mais a azul. O manto celeste da Padroeira que nos guardou a partir da Copa de 58 seria sumariamente aposentado.
Ó não, nunca!
Ó cruel expectativa!
Qual seria o tom da cor a colorir o manto outrora sagrado, a flâmula do nosso exacerbado patriotismo mundo afora? Mistério dos mistérios. Até que o dito site soltou a bomba. Seria – tchã, tchã, tchã – vermelha. Mas, não um vermelho qualquer. Digamos que um vermelho mais fashion, um arabesco de modernidade a enfeitar o peito de nossos craques pelos verdes cantos do Planeta.
Estava assim armada a mais retumbante trapizonga sobre o fim de uma tradição quase setentona.
…
Soaram as trombetas.
Era de se imaginar que a grita seria ampla, geral e irrestrita. Noventa e nove vírgula nove, nove, nove por cento se pôs a bradar e espumar indignação. Há quem veja na mudança uma temerosa declaração de guerra, o assombro de uma ideologia alienígena e teme ‘a foice e o martelo’ no lugar do distintivo.
…
Sim, amigos e sensatos leitores, a coisa toda, no fim, beira ao tragicômico retrato do Brasil que hoje tristemente vivemos.
Há uma ínfima parcela que gosta e defende a ideia. Tem alguns provocadores e outro tanto de brincalhões que querem mais ver o circo ardendo em chamas. Tem também quem aproveite o imbroglio para pedir que se substitua logo a camisa amarela, pois hoje anda segregada em causa outras que não as do futebol.
Há ainda quem, como eu, não está nem aí para as multicores do uniforme que há tempos deixou de me representar.
…
Não tenho mais o sentimento de pertencimento dos tempos de garoto em que a seleção nacional – mesmo que só nas ondas do rádio e, depois da TV em preto e branco – era o suprassumo do encantamento, da minha torcida, das minhas aspirações.
De uns bons tempos para cá, tenho para mim que não mais existe uma legítima seleção brasileira.
Não cultivamos mais o ufanismo da Pátria em chuteiras.
…
Existe, sim, uma seleção de brasileiros que vêm dos confins do mundo – e pra lá voltam quando trila o apito final.
É o que eu penso.
Se o onze em campo vestem Prada ou não, estão de roxo_pânico ou abóbora_medonho, pouco se me dá.
…
De qualquer forma, e mais uma vez parafraseando o Valtinho Cazuza, o filósofo dos meus tempos de garoto no Cambuci, “duvide_o_dó” que essa ideia vingue.
Assim como o técnico da CBF não será o italiano Carlo Ancelotti.
Falei e tá falado.
…
TRILHA SONORA
Enquanto isso, ouçamos um clássico na voz do saudoso sambista Roberto Ribeiro (1940/1996):
…
O que você acha?