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Descompasso

Então haveria o reencontro sempre adiado.

Ela, como de costume, tardaria a chegar.

Ao longo da vida e das canções, ele já se habituara àquele expediente. Àquela manha, sedução.

A princípio, ficaria um tanto contrariado, mas depois cederia, pois como sempre reconheceu dava um veneno encantador ao aponto.

Vê-la chegar era uma delícia, um dom.

(…)

Há tempos não se viam.

Andavam distantes.

Fingiam independência um do outro, como se nunca houvesse acontecido o que aconteceu.

Talvez até não tenha acontecido mesmo, eram e são tão diferentes –  e talvez fosse pura imaginação de um e de outro.

Assim tocavam a vida assim. Pela metade, eu diria; mas não sou de dar pitaco na vida alheia.

Tinham projetos, falas e passos que ajudavam a se entenderem vivos e são e salvos e fortes.

(…)

Vez ou outra, porém, vinha a incontida lembrança. Doce nostalgia de tempos idos (se é que foram?), do riso escancarado, dos olhares quentes, de um amor/romance que ambos sabiam não iria muito em frente, não. Mas, era bom de doer e não se esquecer.

Incrível!

Nos momentos seguintes à tal lembrança, tudo e todos ao redor, para eles, perdiam o sentido, a cor, a nuance.  Viravam autômatos. Não faziam a diferença, não tinham importância.

Daí, era inevitável a vontade de ver, de ouvir, de falar, de…

(…)

Ah! a VONTADE das vontades…

– É como um descompasso, sabe?

Eu lhe digo que, com algum esforço, eu posso imaginar. Saber, saber, não sei.

– Que dá e passa – e deixa a gente assim barulhado, tonto, querendo, querendo… Quase sem chão.

Então, até que tentam resistir ao impulso.

–  Mas, veja como são os nossos tempos! Redes sociais pra cá e pra lá. O celular sempre à mão. Um olá no WhatsAap, um ‘e aí?’ no Face, uma foto ‘recuerdo’ no Insta, um recado de voz, tipo indiferente ‘só pra saber como as coisas estão’…

(…)

Basta um “tudo bem?” e já se sentem como naquelas ‘noites com sol’. Próximos, íntimos, como se nunca houvessem se separados. E fossem eternos.

– Você entende, Autor?

– Sim, sim – concordo.

Era inevitável que terminassem a conversa com a certeza de um encontro ‘para a semana (para o mês, para o ano…) que vem’.

Ele:

– Vou ver umas coisinhas aqui – e lhe confirmo. Saudade.

Ela:

– Vai ser ótimo. Saudades todas.

Desligam como se fossem as pessoas mais felizes do mundo.

(…)

Porém, e sempre existe um porém, logo vem a real da vida.

Ploft. A bolha estoura.

Quebra-se o encanto.

O tal encontro nunca acontecerá.

Ele me diz – e pergunta:

– Você entende, Autor?

– Posso escrever sobre… Vou tentar. Mas, se me permite, amigo, a mais sábia das decisões é deixar o passado no passado. Só o Acaso, o Destino e o Divino são capazes de ditar o presente.

 

Foto: Jô Rabelo

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