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Messi, Pelé, Pedernera e o pai

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Vamos lá…

Por onde devo começar?

Sejamos afirmativo: eu vi Pelé jogar!

Vi Garrincha, vi Didi e, me perdoem os mais jovens, vi Jair da Rosa Pinto fazer mil e uma com a bola no Palmeiras, no Santos e, principalmente, nos campos de terra batida da várzea paulistana quando, já veterano, comandava o Can Can Futebol Clube.

Já-Já, um senhor calvo, de sorriso enigmático, visto assim de pertinho era mesmo impressionante para os meus olhos de menino sonhador.

Paremos com as reminiscências mais remotas por aqui, ok?

Mais crescidinho, vi outros tantos e tamanhos desfilarem talento e genialidade seja no ao vivo dos estádios quanto pela telinha da TV. Brasileiros e não brasileiros.

Devo relacioná-los para eventuais comparações?

Fiquemos com o mais notável deles, o atual Rei do Planeta Bola, o argentino Messi que há 12 anos faz e desfaz das defesas adversárias, encanta e nos dá prazer.

Se é melhor que o pibe Maradona, quase ninguém mais discute. A moda agora é compará-lo a Pelé, primeiro e único.

Quem foi melhor?

Fica a gosto do freguês – ou melhor, do leitor.

Mas, ouso dizer que é mesmo uma questão geracional.

Em jogo, a eterna mania de nós, homens comuns, queremos ser testemunhas oculares da história, de fatos e personagens que marcam a história.

De alguma forma, creio que somos.

Se não um Forrest Gump, algo assim bem próximo.

A seguir conto uma história breve sobre o que penso (ou não penso?) sobre essa discussão.

O cenário é o bar Astoria, aquele mesmo que citei no post de ontem.

Os personagens também são os mesmos. O pai e a italianada, os amigos do pai.

A época, remota, é meados dos anos 50, A.P..

Ou seja, Antes de Pelé.

Desde então, e desconfio que antes de então, já existia esse tipo de bate-boca.

Só que, como Pelé era ainda tão somente o promissor Gasolina, o trono do Rei de Futebol estava em aberto. Sem um legítimo dono.

Havia muitos candidatos.

Entre os brasileiros de épocas distintas, os citados eram Leônidas, Zizinho, Heleno de Freitas, Domingos da Guia, Canhoteiro, Luisinho, Dida, Didi, Baltazar…

Para os palmeirenses, ao menos naquele momento, o artilheiro José Altafini Mazzola era imbatível. Na descrição dos tifosi mais entusiasmados, era o faz tudo no Palestra:

“Batia o escanteio e corria na área pra cabecear.”

O pai era o único que destoava da turma.

Para ele, o melhor de todos que vira jogar era o argentino Pedernera do River Plate. Um center-half de categoria.

– Joga de cabeça erguida, distribui o jogo, corre o campo todo. E faz gols. Não perde uma.

Com outras palavras, talvez, mas era assim que o pai o definia.

Nunca se soube onde o pai o viu jogar.

A TV apenas se iniciava em Terras Brasilis.

O Aldão, é voz corrente, nunca viajou pra fora do país.

Quando muito dera duas ou três vezes escapadas ao Rio de Janeiro, com os amigos.  Uma em 51 ver a final da Copa Rio (o controverso Mundial do Palmeiras) e em outras ocasiões foi assistir ao Grande Prêmio no hipódromo da Gávea.

Nada consta sobre demais andanças.

Em todo caso, e mesmo com todo o mistério, ele era convicto na opinião.

Pedernera e mais dez.

O pai era um tanto debochado, outro tanto provocador.

Confesso que nunca levei a sério essa predileção.

Para mim, ele só queria causar entre os amigos.

Ser diferentão.

Pois vejam só …

Dia desses terminei de ler uma reedição para livro de bolso da obra “Futebol. Ao Sol e à Sombra”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940/2015) e fiquei pasmo.

Lá está à página 84:

“Adolfo Perdenera havia sido o eixo de A Máquina, do River. Aquele homem-orquestra ocupava todas as posições, de uma ponta a outra de uma linha de ataque. De trás, gerava o jogo, dava passes por um buraco de agulha, mudava a marcha, surpreendia no pique; na frente, fulminava os goleiros.”

Na hora lembrei o pai falando e as pessoas, ao redor, discordando, mudas. Tamanha a força da argumentação.

Quando o fenômeno Pelé pôs fim a essa tola polêmica, mesmo assim o pai era fiel ao craque que existia na sua imaginação e, está provado, na vida real.

Reconhecia a coroa e o reinado de Pelé, pós 58, mas fazia questão de ressaltar:

– Para mim, o mais admirável que vi jogar foi Pedernera.

Onde?

Nunca se soube.

Também, diante de tantas certezas, nunca ninguém perguntou…

 

 

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