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O amor na voz única de Angela Ro Ro

Foto: Thaís Gallart/Divulgação

É possível dizer, sem qualquer exagero, que a segunda metade dos anos 70 foi o auge da chamada indústria fonográfica no Brasil.

Não tenho cá números específicos sobre vendagens e coisa e tal.

Mas, posso lhes assegurar que nunca antes na história desse país se vendeu tantos discos. Era um lançamento atrás do outro. Toda semana, como repórter na área de Cultura, cobrindo especificamente as novidades na área de MPB, eu chegava a fazer de quatro a cinco entrevistas com artistas – novos e consagrados. Tinha agenda cheia, diria.

O Brasil era considerado o terceiro mercado em termos mundiais. E em ascensão.

Para lhes dar uma ideia maneira de como sopravam os bons ventos, digo que, numa das edições de sexta-feira do jornal em que trabalhava, preenchi uma página inteira comentando em breves textos nada menos que 18 novos álbuns. Detalhe: todos de cantoras.

Era um momento único. E elas estavam em alta. Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Maria Bethânia, Gal Costa, Simone, Elis Regina, Joana, entre outras e tantas viveram, então, o momento mais popular e, digamos, comercialmente bem-sucedido, das carreiras de cada uma.

Foi em 1978, se bem me lembro.

Foi nesse exuberante contexto que, um ano depois, surgiu a surpreendente Angela Ro Ro em seu disco de estreia, que tinha seu nome como título e um faixa em especial que, de pronto, lhe consagrou “Amor Meu Grande Amor” (parceria dela com Ana Terra) como um dos principais nomes da nova safra (ao lado das também novatas Marina Lima, Zizi Possi e Fafá de Belém).

Estava na coletiva de apresentação da cantora – e lembro bem a dificuldade que nós, repórteres, tivemos de catalogá-la nos tais gêneros e estilos então vigentes. (Perdoem-nos, mas é uma mania que temos no jornalismo de tentar classificar a tudo e a todos com rótulos que nos facilitaria explicar ao público quem é o tal e o qual é sua obra.)

Ro Ro tinha lá seus 30 anos, era despachada, falante e cantava de um jeito único o amor. Era bonita, voz rouca, olhos claros e cativantes. Parecia sentir exatamente as nuances românticas do que cantava. Tinha um quê dramático que fez um dos nossos logo lembrar-se de Maysa Matarazzo, cantora de enorme sucesso no início dos anos 60.

Pode ser, disse outro. Mas, ao vê-la ao piano, com jeitão algo indomável e transgressor, foi natural, creio, compará-la a uma rediviva Janie Joplin dos trópicos.

Houve quem reconhecesse nela uma levada bluzeira no melhor estilo – e eu, sempre eu, que não quis ficar de fora da conversa, a citei como legítima e renovada versão das divas do samba-canção como Dolores Duran e Nora Ney.

Enfim…

Não sei se alguém me levou a sério.

Sei que saímos de lá com a certeza de que surgia uma nova estrela na MPB.

Vida que segue…

Angela Maria Diniz Gonçalves, a Ro Ro, morreu ontem aos 75 anos, no Rio de Janeiro.

Andava um tanto esquecida pelo grande público, e lamentavelmente à margem do circuito dos grandes shows.

Fez uma carreira irregular, marcada pelo temperamento explosivo e série de polêmicas.

Tentava, nos últimos anos, retomar o prumo e voltar à cena.

Nunca se submeteu a rótulos tolos e, convenhamos, desnecessários.

Angela Ro Ro foi única.

Cantou o amor e o desamor também de forma única, e inesquecível.

*Sobre Angela Ro Ro leia mais:

Um pouco de malandragem

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