Foto: Debora Bloch, em cena como a eterna vilã Odete Roitman/Globo/Divulgação
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Meus caros e preclaros,
enquanto os noveleiros de plantão preparam-se para o gran finale do remake de “Vale Tudo”, a rediviva novela, original de Gilberto Braga, que tanto e absurdo sucesso fez com o mistério sobre “Quem Matou Odete Roitman?”, eu fico por aqui, na minha infinita insignificância, a remoer lembranças e a questionar as vilanias da vida real.
Meus raros, eu lhes pergunto:
Com quantos ‘vales tudo’ se faz o cotidiano nosso de cada dia?
Eis o verdadeiro mistério.
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Meus amáveis cinco ou seis leitores (se é que ainda andam por aqui?) sabem que sou ‘um senhor de idade provecta’ (como diria o Armando, amigo do meu pai, sempre a ostentar o imutável tom caju nos cabelos com gomalina), lavado e enxaguado em águas revoltas de tempos do pós-guerra. Um alquebrado cidadão de léguas e jornadas que, como pude, enfrentei suavemente muitas barras, perambulei por becos e quebradas, vi e vivi muita coisa – mas providencialmente esqueci quase tudo, inclusive quem matou Salomão Ayala, este, sim, o primeiro e legítimo mistério das telenovelas brasileiras.
Mesmo assim, meus caros, me espanto com a indiferença que este mundão de meu Deus assiste às estrepolias invasoras do trepidante presidente dos Estados Unidos, o alaranjado Donald Trump (não é porque virou ‘quase parça’ do Lula que vou passar pano, não), fazendo e desfazendo a bel prazer, jogando com o futuro (queiramos ou não) de toda Humanidade.
“Vai dar ruim”, preconizo no linguajar de um dos meus sobrinhos-netos.
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Absurdo dos absurdos, o anúncio que fez ontem ao declarar “uma eventual operação militar na Venezuela”.
Leio na coluna do bem informado repórter Jamil Chade, no UOL, que:
“Sob o pretexto de estar lutando contra organizações criminosas e o narcotráfico, o governo americano destacou para o Caribe pelo menos 10 mil soldados, muitos deles em Porto Rico e em Trinidad e Tobago. Ainda que o volume seja insuficiente para uma invasão por terra, ele poderia ser a base de ataques aéreos contra a Venezuela e já é a maior mobilização de tropas americanas na região desde a crise no Panamá”.
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Mais:
Deu no New YorK Times:
Trump autorizou que a CIA realize operações secretas contra o presidente Nicolás Maduro que, ao que sou capaz de entender, ele (Trump) equipara o presidente da Venezuela a um chefe de cartel do narcotráfico.
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Caros e preclaros,
tudo o que o Brasil não precisa é de uma guerra em seu quintal.
Tudo o que a América Latina não precisa neste precioso momento é o espocar de um conflito que, inevitavelmente, irá além do âmbito regional.
Sabemos bem o quanto custa a um país (e mesmo ao planeta) as incursões da poderosa armada americana em nome da pseuda defesa dos ‘ideais democráticos’. Nossa história recente está recheada de exemplos. Fiquemos com o Afeganistão e o Iraque, que são exemplos mais recentes e flagrantes.
O que restou desses dois países?
Escombros e miséria, zero reconstrução.
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O governo brasileiro (que abriu diálogo com mandatários ianques sobre o tarifaço) já demonstrou preocupação com um conflito tão próximo de nós. Muito provável, creio eu, que esses temores bélicos não entrem na pauta das negociações de hoje. Mas, creio, seja importante uma postura firme (e coesa com outros países latino-americanos) a intransigente defesa da Paz.
Vou lhes dizer (porque são de casa) que o Prêmio Nobel da Paz deste ano (Maria Corina Machado, opositora de Maduro) passou a me soar algo estranho. Muito estranho, tão estranho…
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Enfim,
comecei lhes falando de Odete Roitman (e a minha surpresa por saber que ainda há quem acompanhe novela), lembrei Salomão Ayala (personificado pelo saudoso Dionísio Azevedo), rocei sobre os mistérios da vida real e desaguei na sanha expansionista do Homem de Topete Laranja, acho que, para uma quinta-feira de amena temperatura, eu já lhes aluguei o suficiente.
Fiz um pastiche do noticiário, reconheço.
Mas, por favor, continuem por aqui.
Queiram-me bem.
Que (ainda) não custa nada!
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TRILHA SONORA
Uma das antigas para salvar o dia
e embalar rumores e amores.
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O que você acha?