Foto: Divulgação
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Estávamos ali, um grupo de jovens repórteres, no saguão de um hotel de médio porte no centro de São Paulo, à espera para entrevistarmos a cantora Nana Caymmi. Foi nos avisado que, pela ordem e pela orientação da gravadora, ela atenderia, primeiro, aos repórteres da TV, depois os das emissoras de rádio e, por fim, os ‘canetinhas’; nós, a turma dos jornais e revistas impressos.
Não sei como a banda toca hoje em dia, mas, à época, eram assim as coletivas de Imprensa.
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E querem saber?
Nem sequer reclamávamos.
Relevávamos o prazo apertado do ‘fechamento’ da edição, e até gostávamos de ficar por ali a papear com nossos iguais sobre o tudo e o nada da vida. Basicamente não fugíamos ao tema em nossas conversas. Quais seriam os próximos lançamentos do mundo musical, os shows da semana, quem ‘cobriria’ o quê, o que achávamos disto, daquilo e d’aqueloutro.
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Lembro que, nessa tarde que se perdeu nos escaninhos do tempo, um dos nossos saiu-se com essa:
“O único problema do autor que tem uma música gravada por Nana Caymmi é que nunca mais a música será unicamente dele. Nana é dramaticamente autoral em suas interpretações”.
Anos 80, creio. Não garanto. Pode ter sido antes.
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A historieta me veio à mente assim que soube, no fim da tarde de ontem, do falecimento da carioca Dinahir Tostes Caymmi, aos 84 anos, no Rio de Janeiro.
Morreu a filha dileta de Dorival Caymmi.
Ô tristeza.
Mais uma das minhas referências que se vai…
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Nana Caymmi está no panteão das grandes vozes do cancioneiro popular brasileiro.
Não há o que discutir.
Teve, sim, uma carreira um tanto irregular por escolha própria.
Não se fazia de diva, nem pedia pompas e circunstâncias em suas apresentações.
(Naquele dia, lembro bem, chegou com o namorado a tira colo. Era o jovem Cláudio Nucci, integrante do grupo Boca Livre. Suavemente despachada, vestia jeans e tinha a camisa pra fora da calça. Falava alto e a todos cumprimentou com largo sorriso.”Bom que estejam aqui.”)
Era simples e generosamente uma cantora única. Inconfundível. Romântica, a nos envolver das primeiras às últimas sílabas das letras da canção. Cantasse o que cantasse.
Desses talentos, raros talentos, como bem disse o colega, que assinam lindamente tudo o que interpretam.
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Dou-lhes o exemplo.
Nem sequer os magnânimos Roberto e Erasmo escaparam, como compositores, ao furor interpretativo de Nana Caymmi.
Ouçam a balada que ela primorosamente transformou em requintado samba-cançao…
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O que você acha?