Câmara Federal tenta voltar à normalidade após motim bolsonarista (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
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“É um desvão de caráter.”
Não lembro quem foi o autor da frase que logo se fez bordão em nossas rodas de conversas no pós-expediente das redações, quando em um boteco qualquer, madrugada adentro, combinávamos de nos encontrar – jornalistas de graduações diversas e gerações distintas – para passar a limpo situações e personagens que, no transcorrer da jornada, foram pautas e temas de nossas reportagens.
Fim dos anos 70, início da nova década. Tempos de redemocratização. De sonhos e utopias sociais que, hoje, tristemente lhes confesso me escapam e temo desacreditar.
Não podíamos ser direto e reto em nossas abordagens. Ainda havia um resquício de censura – se não a oficial, a dos donos das empresas, cuidadosos para que o negócio jornal não desandasse de vez. Também havia a ameaça de um processo judicial se não tínhamos a prova conclusiva do que escrevíamos no bojo dos nossos textos.
Enfim…
Ali, púnhamos o papo em dia, trocávamos informações e emanávamos nossa sincera opinião sobre o ato e o fato – título de célebre coluna do jornalista Carlos Heitor Cony (1923/2018).
Não preciso dizer, mas digo: assim definíamos solene e democraticamente, ao menos naquela roda de conversa, quem considerávamos os lambe-botas da ditadura então vigente e seus projetos de perpetuação do autorismo.
Tinham um contumaz e irreversível “desvão de caráter”.
“O perigo – dizia desde então o dublê de repórter e profeta, o amigo Escova – é que a coisa toda é contagiosa e não tem remédio, nem solução. Mesmo assim, democracia neles.”
Detalhe: não havia rede social para difundir o vírus da idiotização massiva.
Vou-lhes dizer que, tolamente talvez, acreditávamos no jornalismo, no país e no mundo.
Acreditávamos no futuro.
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Preparo-me para escrever o post de hoje.
Inevitável aparecer no topo dos assuntos a deplorável cena dos deputados arruaceiros a ocupar bisonhamente o plenário e a mesa diretora da Câmara Federal (foto) em defesa de um provável projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro, que beneficiaria inclusive o Estropício-mor, entre outras tantas pautas de interesse bem particulares.
Permitam-me poupar o caríssimo leitor de mais uma narrativa de outra página infeliz da nossa história.
Prefiro lembrar as conversas de antigamente, o bordão, os sonhos e a utopia de um país generoso e socialmente justo que, decididamente, não passa hoje pelo Congresso Nacional que deveria nos representar condignamente.
Mas, que resiste a mais este indigno assalto.
Sem Anistia!
Democracia Sempre.
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TRILHA SONORA
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Veronica
8, agosto, 2025Gente, a coisa está surreal! Dramalhão barato dos ruins, que nunca terminam