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Tributo a Raulzito

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Foto: Raul Seixas/reprodução/capa do disco Gita

Acordo cedo para escrever sobre Raulzito.

O mago completaria hoje 80 décadas.

Morreu em agosto de 1989 – e ainda hoje se faz presente no imaginário e na vida dos milhões de malucosbelezas (também há os que não sejam tão malucos, nem tão belezas assim) que andam à solta pelaí a ouvir suas canções, tão únicas e tão representativa daquela gente estranha e sonhadora que eram os jovens dos anos 70.

Acordo cedo nesta manhã de sábado, como fazia naqueles idos.

Tinha eu 20 e poucos anos e o hábito de perambular à toa pelo centro de São Paulo a troco de nada, a ruminar comigo mesmo as próprias utopias. Descia do ônibus nas imediações da Estação da Luz para escarafunchar as bancadas das lojas de discos que abriam cedinho em busca da freguesia. Eram uns estabelecimentos mequetrefes que empilhavam novos e velhos lançamentos ‘a preços de ocasião’. Tinha muito encalhe das gravadoras, e músicas de todos os gêneros. Quando a grana dava era possível sair dali com algum compacto simples. Mas, não era sempre.

Dali seguia para o centrão propriamente dito, via Avenida Ipiranga e Viaduto do Chá, até a Praça da Sé, com parada obrigatória e demorada em todas as lojas de discos que encontrava pelo caminho.

Por que lembro essas andanças?

O que tem o Raul a ver com isso?

Explico.

Foi assim que me dei conta do fenômeno que representou o raulseixismo à época.

Era impactante – e inesquecível – ouvir que todas as lojas, repito: todas as lojas tocavam ininterruptamente aquele iêiêiê canhestro, de nome “Ouro de Tolo” do então desconhecido cantor/compositor baiano que, ao contrário de Gil e Caetano, não era reconhecido pela intelectualidade, mas era incrivelmente admirado pelo povão.

Havia uma ânsia de liberdade, de ir além das convenções. Havia a ânsia de celebrar a Era de Aquarius, de sermos todos e, amavelmente, sermos únicos.

As músicas de Raul, seus estranhamentos, suas ousadias, talvez nos faziam acreditar que éramos feitos ‘da terra, do fogo, da água e do ar’.

Havia latente uma empatia entre o artista e o público, a massa, que era qualquer um nas quebradas dos vinte e poucos anos.

Divagações à parte…

… não soube definir à época.

Não seria agora.

Sigamos.

Topei com Raul Seixas – pois é, tive esse privilégio – três ou quatro vezes nas minhas posteriores andanças como repórter dos tais Cadernos 2.

Certa tarde, nas instalações da WEA, ao lado do amigo Naconecy, fizemos uma entrevista exclusiva que demorou hora e tanto para desespero das assessoras de Imprensa, pois Raulzito tinha outros apontamentos com veículos (Veja, Folha, Estadão, Jornal da Tarde, entre outros), mais gabaritados (ui!) que o nosso combativo Jornal da Mooca.

Foi nesse dia que ele elogiou – acreditem! – nossa ousadia de tocar um jornal por conta e risco. Citou o verso de Caetano (que encerra a canção ‘Tigreza’): “Como é bom poder tocar um instrumento” – e profetizou com ternura:

“Somos únicos. O importante, meu nego, é deixar nossa impressão digital no mundo.”

É bem por aí, não?

Não tenho uma música preferida. Gosto de todas. Umas mais, outras menos. Mas, sempre que posso, lembro a mensagem da belíssima “Prelúdio” que diz:

“Sonho que se sonha só

É só um sonho que se sonha só.

Sonho que se sonha junto

É realidade”.

Veja também:

Filha de Raul Seixas assiste à série sobre o pai e se diverte com amigos

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