Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
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O mais cultuado álbum de Jorge Ben Jor – A Tábua de Esmeralda – completa 50 anos.
Foi lançado em maio de 1974.
Olaiá…
Eu tinha 23 anos.
O ainda Jorge Ben, hoje sabemos, já batia na casa dos 35.
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Dá pra dizer que foi o ápice criativo da sua longínqua carreira?
Acredito que sim, com ressalvas.
Seus primeiros discos – Samba Esquema Novo e Sacundim Ben Samba – datam de 1963 e causaram um rebuliço na música popular brasileira. Misturaram influências africanas, com a levada do samba, do maracatu, da bossa nova e do rock.
Muitos críticos, pra variar, nada entenderam.
Mas, hits como ‘Mas Que Nada’, ‘Por causa de Você Menina’, ‘Chove Chuva’, ‘Balança Pema’, entre outros estão aí ainda hoje.
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Ainda nos anos 60, o Babulina gravou ‘Ben É samba Bom’ e ‘Big Ben’, com relativo êxito.
Deu-se que em 1965, ele foi morar nos Estados Unidos por uma curta temporada.
Resultado:
Saiu da lista das mais mais que tocavam no rádio e na TV.
Não aconteceu por lá, embora ‘Mas Que Nada’ alcançasse sucesso com o músico brazuca Sérgio Mendes.
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Jorge retornou ao Brasil a tempo de figurar, ainda que sem maior notoriedade, na áurea fase dos festivais.
Flertou com a Jovem Guarda e o Tropicalismo para reconquistar o grande público a partir da ampla repercussão de ‘País Tropical’ – música/hino da virada dos anos 70 por aqui.
São dessa fase, especialmente inspirada, outras memoráveis canções: ‘Que Pena’, ‘Minha Menina’, ‘Zazueira’, ‘Que Maravilha’, ‘Criola’, ‘Cadê Tereza’, ‘Charles Anjo 45’, ‘Bebete Vambora’, ‘Vendedor de Banana’, entre outras.
Um sucesso estrondoso.
O dito samba-rock bebe dessa fonte inesgotável para se consolidar como genero musical, especialmente dançante nas periferias de São Paulo e nas quebradas do Rio de Janeiro.
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A década de 70 vai revelar um autor, digamos, mais sofisticado e ousado.
Jorge envereda por temas elaborados e uma sonoridade ritmica ainda mais incomum para os padrões vigentes.
Faz álbuns antológicos – Força Bruta (1970), Negro É Lindo (1971), Dez Anos Depois (1972) e Ben (1973) – até chegar no conceitual A Tábua de Esmeralda em 1974.
“Um delírio sonoro e ritmico” no parecer abalizado do jornalista e crítico Maurício Kubrusly, do lançamento no Jornal da Tarde.
Ben inspirava-se nos escritos do filósofo e alquimista Nicolas Flamel (1330/1418) e do médico e alquimista Paracelso (que faleceu em 1541) para formatar clássicos incendiários como ‘Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas’, ‘O Homem da Gravata Florida’, ‘Magnólia’, ‘Zumbi’, ‘O Namorado da Viúva’, ‘Errare Humanum Est’, ‘Eu Vou Torcer’. ‘Minha Teimosia É Uma Arma Pra Te Conquistar’, ‘Brother’, ‘Hermes Trimegisto e Sua Celeste Tábua de Esmeralda’ e ‘Cinco Minutos’.
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No livro “Pavões Misteriosos”, que relata os bastidores da música brasileira nos anos 70, o jornalista André Barcinski escreve que qualquer pessoa que entrasse numa loja de discos nesse período, tomaria um susto. “Tim Maia misturava cultura racional com disco voador, Secos e Molhados trazia toda aquela expressividade sexual que encantava crianças e musicava poemas inteiros de brasileiros e portugueses, enquanto Raul Seixas e Paulo Coelho mergulhavam na sociedade alternativa, no ocultismo e na contracultura com ‘Gita’.”
Acrescente-se ao contexto: Jorge Ben Jor em sua exuberante alquimia musical a reverenciar enigmas e figuras medievais.
Era o suprassumo do pop Made in Brasil
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Tinha 23 anos quando entrei na pequena loja de discos do amigo Álvaro Soares para comprar o meu novo disco do Ben Jor.
Óbvio que me veio o natural espanto – e um incontrolável encantamento com essa incróvel viagem sonora.
Seguramente um dos álbuns que mais ouvi na minha vida.
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Lá pelas anos 80/90 tive a oportunidade de entrevistar Ben Jor para City/Shopping News, jornal semanal paulistano. O artista iria se aprensentar em São Paulo. A fase mística havia passado. Eram novos tempos. ‘W/Brasil’, o sucesso da vez. Um funk sacudido, pioneiro, que bem ao seu estilo o fez retornar às paradas de sucesso e assim cativar uma nova geração de fãs.
A pauta, portanto, era outra.
Mas, não resisti – e lhe perguntei sobre o álbum inesquecível.
Segue a resposta:
“Minha fase mística foi basicamente nos discos A Tábua de Esmeralda e Solta o Pavão (1975). Isso foi no inicio dos anos 70 e agora estou vendo muita gente nessa trilha. Acho um barato o sucesso dos livros do Paulo Coelho. Agora tem que ter seriedade para falar dessas coisas. Quando falei dos alquimistas fiz um trabalho sério. Sou um cara ligado no espiritual, meio rosacruz, um alquimista musical. Meu avô me deixou muitos ensinamentos. Ele era muçulmano e rosacruz. Deixou muita sabedoria, deixou livros. São esses ensinamentos que, às vezes, sempre que posso, repasso em minhas letras. Aprendi com ele a bondade, a generosidade, a respeitar a verdade de cada um.”
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Assim falou Jorge Ben Jor:
A verdade sem mentira
Certo muito verdadeiro’
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*Ainda nos anos 70 Jorge Ben Jor gravou dois discos históricos África-Brasil (1976) e Gil Jorge (1976) que inevitavelmente serão assuntos para posts futuros.
Clique AQUI para ler a entrevista que fiz em julho de 1991.
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O que você acha?