O ‘coraçăo tranquilo’, Walter Franco, se apresenta em Săo Paulo neste fim de semana. Faz uma retrospectiva da carreira como cantor/compositor no Centro Cultural Vergueiro, amanhă, a partir das 19 horas.
É provável que alguns dos meus habituais cinco ou seis leitores năo saibam quem é Walter Franco. Ele é um dos remanescentes da era dos festivais e, há que se reconhecer, é bem menos conhecido do que merecia. Sua obra é marcada pela ousadia, embora se caracterize por uma genial singeleza.
Walter Franco pertence ŕ chamada geraçăo de briga, aquela que topou todas as batalhas nos áridos anos 70, para se fazer ouvir. Alceu, Melodia, Ivan Lins, Gonzaguinha, Novos Baianos, Fagner, Belchior, Raul Seixas, entre outros tantos e tamanhos.
Năo seria exagero dizer que Franco é o mais “maldito” da turma. Os meios de comunicaçăo nunca entenderam – ou fizeram questăo de entender - sua arte que, como se vę hoje, resiste ao tempo e aos modismos.
Para que se tenha dimensăo da grandeza deste paulistano de 70 anos (o show vai nesse sentido de celebrar a data), vale dizer da admiraçăo cativa de Chico Buarque, Caetano Veloso e do poeta concretista Augusto de Campos.
Querem melhores referęncias?
Em 1974, em sua ‘eterna’ luta contra a censura. Chico Buarque decidiu gravar um disco só com músicas de autores que gostava. Caetano, Gil, Nélson Cavaquinho, Vinicius, Tom Jobim, Paulinho da Viola, Caymmi e Walter Franco. A cançăo “Me Deixe Mudo” foi uma das mais executadas – e o disco apropriadamente chamou-se “Sinal Fechado”.
Caetano já reconheceu em algumas entrevistas o talento de Walter Franco. Só que năo o perdoa (em tom de brincadeira) ter descoberto antes que ele (Caetano) a força da expressăo “ou năo”. Que o baiano tanto usou em seus quase sempre polęmicos depoimentos. “Ou năo” é título do mais incrível disco de Walter Franco – aquele que tem a capa toda branca e possui, entre as faixas, a
experimental “Cabeça”.
“Cabeça pode, irmăo.
Cabeça explode, ou năo”
Aliás a música foi apresentada, sob vaias e delírios, no Festival Internacional da Cançăo de 192, e causou tamanha comoçăo pela sua pegada inovadora que a Censura (ou algo no gęnero) obrigou a Globo (organizadora do evento) a destituir os componentes do júri que lhe acenavam com a vitória. Entre os tais, estavam figuras como Décio Pignatari, Rogério Duprat e Júlio Medaglia, além de Nara Leăo, presidente da comissăo julgadora.
Aquele foi o último FIC, vencido por “Fio Maravilha”, defendido bizarramente por Maria Alcina. A experięncia sonora de Walter, no entanto, acabou por implodir a velha estrutura dos festivais.
“Nem os tropicalistas foram tăo longe”, afirmou ŕ época o poeta Augusto de Campos. “Esta é a verdadeira música concreta ‘in concreto’”.
No repertório do show, estăo: “Serra do Luar”, “Me Deixe Mudo”, “Canalha”, “Respire Fundo”, “Coraçăo Tranquilo”, “Vela Aberta”, “Feito Gente”, entre outras. |