“Mas, quando se tratava de Antonio Maria, mesmo num momento dramático, sempre haveria espaço para o humor. Uma história que circulou pelo velório de Maria numa capela do cemitério Săo Joăo Batista contou que, de volta ao Rio, vindo de Săo Paulo, Maria encontrou por acaso com Carlos Heitor Cony. Este era entăo o jornalista mais discutido do país, por desafiar abertamente os militares recém-instalados no poder, em sua coluna no Correio da Manhă. Ao vę-lo, Maria foi logo dizendo:
“Cony, estive passando uns dias em Săo Paulo. Uma paulista me viu, pensou que eu fosse vocę e me levou para a casa dela. Fomos para a cama.”
“É mesmo? E como foi?”, perguntou Cony.
“Vocę brochou!””
(*)
Esta é uma das centenas de histórias recolhidas pelo jornalista e escritor Ruy Castro para o livro “A Noite do Meu Bem – A História e as histórias do samba-cançăo”. Mais um admirável trabalho do autor de clássicos como “Chega de Saudade – A História e as histórias da bossa nova”, “O Anjo Pornográfico – A vida de Nélson Rodrigues”, “Estrela Solitária – Um brasileiro chamado Garrincha”, “Carmen – Uma biografia”, entre outros títulos.
Em “A Noite do Meu Bem”, Castro traça um detalhado painel do Rio de Janeiro nas décadas de 40, 50 e 60, com seus personagens, ‘templos sagrados’ (as boates) e nos insere naquele contexto embalados pela inefável trilha sonora daqueles idos: o samba-cançăo.
O Rio ainda era a capital federal, o centro do glamour e do poder. O que ali acontecia repercutia em todo o Brasil – um país que, acreditem, com toda a ebuliçăo social e política, ousava amar e sonhar com dias mais promissores. |