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A profecia

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Foto: Reprodução

Devo-lhes uma…

Prometi em meio ao texto de ontem que hoje lhes contaria um causo – então, vamos lá.

Senta que lá vem história!

Entre os anos de 1979 e 1980, circulou em São Paulo o diário Jornal da República com uma plêiade de grandes nomes d0 jornalismo pátrio, comandados pelos luminares Cláudio Abramo e Mino Carta.

Uma experiência interessante que durou seis meses; pouco mais, talvez.

Dizem que não houve apoio das agências de publicidade -esta e outras questões infelizmente lhe abreviaram a trajetória e a existência.

Enfim…

É do jog0.

Uma curiosidade.

Tenho em algum canto dos armários da casa a encadernação de quase todas as edições do jornal. Perdi meia dúzia de números, se tanto.

Recém formado em jornalismo, passou a ser minha referência na profissão ao lado do então Jornal da Tarde (diga-se, também criado por Mino Carta).

Qualquer dia tomo coragem e enfrento a poeira, os ácaros e as lembranças dos idos e havidos tempos, folheio as páginas amareladas – e, estou certo, terei um farto e rico material para lhes mostrar, aqui, em nosso humilde Blog.

Uma dessas histórias, a tenho clara na memória, pois se mostra atualíssima mesmo depois de tantos e tantos anos.

Trata-se de uma passagem ocorrida aos olhos do jornalista Mino Carta e que, posteriormente, ele transformou em tema para o breve editorial que assinava na primeira página do jornal.

Tudo começa com a discussão entre duas portentosas damas da nossa sociedade a se esfalfarem em impropérios na vã tentativa de ser atendida pelo pasmo e atarefado frentista junto à bomba de gasolina.

Ambas queriam completar o tanque de seus possantes. Uma antes da outra, claro.

Não abririam mão da primazia em relação a quem quer que fosse.

Como assim?

Explico:

Naquela época, os aumentos dos combustíveis eram anunciados pelo cavernoso Governo Militar minutos antes de os postos encerrarem suas atividades. Às 20 horas.

O Jornal Nacional – sempre o tal – dava a informação – e era um Deus nos acuda.

Formavam-se longas filas, pois.

Como bons brasileiros que somos, ansiávamos o regalo, o privilégio, a vantagem.

É bíblico, diriam:

” Mateus, primeiro os meus.”

Tudo para economizar alguns trocados.

Mesmo quem como as distintas madames não precisasse. as escaramuças eram inevitáveis.

Mino é italiano de nascimento, da bela comuna de Genova. Veio para o Brasil ainda garoto ao fim da Segunda Grande Guerra. A cena – deplorável em todos os aspectos – fez com que ele refletisse que, até então, o Brasil não havia enfrentado um momento, digamos, crítico, contundente em âmbito nacional.

Desconfio que usou o termo “uma grande tragédia”. Que a todos atingisse indistintamente.

Talvez por isso fosse comum o comportamento egoísta daquelas senhoras que, justiça se lhes faça, se repetia em outros postos de gasolina em qualquer canto do país. Indiferente de credo, raça e, digamos, classe social.

Disse mais, o Mino – e concluiu: se tal comportamento se perpetrasse principalmente no que chamou de elite [ou classe média, não lembro bem], não haveria futuro para a democracia que, então e avidamente, ainda almejávamos conquistar.

E que ainda, tantos e tantos anos depois, bambeia em cacos e desmandos.

Aprenderemos?

Ainda nenhum comentário.

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