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Ao amigo Cesar, das utopias que clareiam o amanhã

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Cesar e a deputada federal Luiza Erundina em ato público em São Paulo/Foto: Instagram/Erundina

Inevitável.

Sim, amigos, manhã de domingo, se faz inevitável que eu lembre Rolando Boldrin na tela da TV a comandar o programa ‘Sr. Brasil’.

Era momento único de música, poesia e prosa. Muita conversa boa.

Havia ali uma admirável comunhão entre as pessoas. Creio que era bem isso o que Boldrin e seus convidados nos propunham em nome de uma afetividade bem nossa, bem brasileira.

Diria que artistas e plateia faziam-se amigos cordiais, fraternos.

Doce realidade de um Brasil de todos os brasileiros que – vamos lá, gente boa – tanto almejamos.

Eu acompanhava Dona Yolanda, minha saudosa mãe, nessas plácidas manhãs.

Ela já havia entrado nos 80 e tralalá, tinha grave problema de visão (só enxergava vultos e imagens esmaecidas); mas, aos domingos logo cedo se punha a postos diante do aparelho de TV. Assistia à missa do Padre Marcelo, embalava no programa ‘Viola, Minha Viola’ de Inezita Barroso e terminava a sessão com o ‘Sr. Brasil’, Boldrin e sua trupe.

A bem da verdade, Dona Yolanda mais ouvia do que via as atrações. Eu me punha ali, no sofá da sala de casa, como parceiro e eventual intérprete de suas dúvidas. Chegava em meio ao programa da Inezita e, confesso, me deleitava com os causos picarescos que o Boldrin tão bem contava.

Um bordão de Boldrin me chamava atenção.

Quando comentava sobre algum amigo que havia falecido não importava quando e onde, ele sapecava a seguinte expressão:

“Fulano partiu fora do combinado”.

“Sicrano se foi fora do combinado.”

Dona Yolanda, minha mãe, quase sempre reagia a essa fala com brevíssimo sorriso e a observação:

“Que jeito carinhoso de falar dos amigos que morreram!”.

Pois então, meus caros e raros leitores…

Hoje estou ao embaraço deste tal sentimento ao qual chamamos de “prévia saudade”.

Nem sei se deveria escrever, mas… é do ofício, escrevo.

Dona Yolanda, Boldrin, Inezita já não estão entre nós.

Partiram “fora do combinado”.

E nesta semana ofuscou-me a infausta notícia:

O (quase) primo e amigo querido Luiz Cesar Gomes dos Reis se foi, também ele, “fora do combinado”.

Que perda repentina, e imensurável.

O que posso lhes dizer de Cesar?

Era uma doce presença sempre que surgia em cena.

Diria que, tal e qual ao clima que citei no início da crônica/homenagem, a ele bastava estar ali para natural e suavemente propor a comunhão entre as pessoas e os arredores.

Era cordial, e amorosamente fraterno.

Trazia sempre um sorriso (ainda que breve) no rosto, um gesto, uma fala ou mesmo um silêncio a consagrar a terna celebração à amizade, à vida e às utopias que nos clareiam o amanhã.

Não foi à toa que, em meio ao funeral realizado na manhã de ontem, os amigos – entre eles, a deputada federal Luiza Erundina – e os familiares, ainda que tocados pela imensa perda, entoaram consternados a canção do Gonzaguinha que diz:

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz”.

Manhã de domingo, de um dezembro de forrtes ventos e contingências inesperadas.

Lá se vai o amigo Cesar que partiu “fora do combinado”.

E hoje se faz ternura e saudade.

Tinha 70 anos, era arquiteto, atuante em movimentos sociais e sonhava o sonho que, juntos, os de boa fé sonham.

Um amigo que, seja onde for, deixa-nos o sentimento que seguirá aquela outra jornada de Luz e Glória e na Paz de quem soube honrar os passos e o caminho.

TRILHA SONORA

Em nome do legado do Cesar…

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