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Boleiro (5)

Não sejamos rudes com o garoto neste capítulo final da história. Nos portões do Parque Antártica, com um par de chuteirinha chumbrega embaixo do braço e todos os sonhos do mundo na cabeça, as pernas do garoto bambearam. Lembremo-nos que tem entre 13 e 14 anos.

Está sem graça de tudo.

Tenta avançar os 20 metros que o separam da entrada principal e as ditas-cujas agora pareciam pesar uma tonelada. Estranha o início de pânico. É provável que tenha pensado:

"O que está acontecendo comigo?"

Tal pensamento é seguramente esquartejado pelo baticum descompassado do coração. Alguns garotos mais fortes e maiores o ultrapassam. Andam céleres e em grupos. Todos se conhecem e conversam em alto e bom som. Brincam, riem. Atravessam o portão na maior. Dão boa-tarde ao porteiro e somem engolidos pelo grande portão de ferro. Devem ser os afortunados jogadores das equipes amadoras do Palmeiras.

Tudo o que ele queria ser.

Tentemos entendê-lo, gente.

Os olhos turvam – e a realidade se faz magnânima a três passos da entrada, onde o mesmo senhor de terno azul marinho e quepe, que sorrira para os garotos, agora lhe olha desconfiado.

Não tem chance. Arrasta-se para chegar à portaria. Se está assim agora, imagine o vexame que daria em campo?

Balança a cabeça a espantar suas inquietações.

Mesmo assim caminha e enfrenta a grandeza do momento.

Diz baixinho para ele mesmo, mas com muita fé.

— Seja o que Deus quiser…

Tira do bolso o cartão amarfanhado, mostra para o homem a balbuciar palavras desconexas.

— Eu… teste… infantil… O doutor Orlando falou…

Já está no meio da catraca, super sem jeito, quando ouve a voz do porteiro.

— Pode voltar, garoto. Pode voltar. O infantil só treina na quinta…

Querem saber? O garoto sentiu um baita alívio.

Vá entender…

No dia seguinte, ainda está sob o topor da aventura vivida. Mal sabe ele que viverá uma sensação idêntica: um misto de alívio e decepção.

O pai chega com o Diário da Noite debaixo do braço. Vem almoçar e traz um risinho divertido sobre o bigode aparado e fino.

Abre o jornal na página de Esportes e mostra a manchete ao filho.

“CAI O DIRETOR DE FUTEBOL DO PALMEIRAS”

Ou seja, aquele cartãozinho, na ordem das coisas, não vale mais nada. É o fim da sua carreira de boleiro profissional. E o início de outra. No fundo, nem ligou. Aprendeu. Vale mais a versão do que fato em si.

A todos os garotos da rua, mostra o cartão do homem e a manchete do jornal, acompanhados da mesma fala:

— Olha aí, rapaziada. Vejam o azar que eu dei. Já estava tudo certo para eu ir jogar no Palmeiras.

O menino virou ‘contador de histórias’ e boleiro nas horas vagas. Sempre a lembrar o dia em quase foi contratado pela gloriosa Società Esportiva Palestra Itália.