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Histórias para acordar o menino Keirrison…

… enquanto os gols não vem.

I.

Vamos combinar: quem quiser usar a camisa 9 do Palmeiras precisa ter fome de gols. Se o carão achar que já fez o suficiente e ficar achando que pode escolher dia e hora para jogar, não tenham dúvidas. Vai ouvir uma vaia maior que o Palestra Itália porque fica zunindo nos ouvidos antes, durante e depois do jogo.

Reconheço e dou fé: a torcida do Palmeiras é chata pra caramba.

Quem assina as tratativas acima é este humilde escriba que acompanha futebol desde o tempo em que o nosso estádio, na mesma Turiassu, tinha alambrado e chamava-se Parque Antarctica.

Vale para o garoto Keirrison que, reconheço, tem apenas 19 anos, sonha em jogar na Europa e pouco sabe da história de um dos mais tradicionais clubes de futebol do País.

II.

Amanhã prometo falar especificamente do atacante.

Hoje quero me fixar nessa tradição que vem desde que o nosso Mazzola (José Altafini) foi vendido para a Itália e a 9 do Verdão ficou vaga pouco depois da Copa de 1958.

Américo Murolo, Humberto Tozzi, Humaitá, Abílio, Adhemar Pantera, Dario, Servílio, Tupãzinho, Geraldo II, César Maluco, Artime, Toninho e tantos outros, desde então, nunca tiveram vida fácil.

Se passassem dois ou três jogos sem marcar, lá vinha bronca.

Nem o hoje consagrado Evair escapou da sina.

Um pouco antes de a Parmalat montar o esquadrão bicampeão brasileiro em 93 e 94, o nome do craque figurou numa lista de dispensa.

III.

É bem verdade que nem sempre essas cobranças tinham o tom de ameaça como hoje.

Muitas vezes, eram mais uma forma bem-humorada de criticar o mau desempenho do time. Lembro que, ali por volta do início dos anos 80, dois jogadores brigavam para ser o titular do time: Reinaldo e Luisinho Cambalhota, irmão de César Maluco.

Normalmente, quem começava jogando era Reinaldo. Na primeira canelada do gaúcho grandalhão, a torcida não perdoava.

Começava a gritar:

— É Luisinho. É Luisinho. É Luisinho.

Lá pelas tantas, era inevitável a substituição.

O Serviço de Som anunciava:

— Sai Reinaldo, entra Luisinho.

A torcida ia ao delírio. Comemorava como final de Copa do Mundo.

Mas, no primeiro chute para fora que o carioca dava, o coro retornava:

— Reinaldo. Reinaldo. Reinaldo.

IV.

Quem percebeu logo como a banda dos corneteiros toca, lá pelos lados do Palestra, foi o um jovem atacante, apelidado de Picolé, contratado junto ao São Bento de Sorocaba nos idos dos anos 60.

Ele fora a sensação do Campeonato Paulista do ano anterior e veio para o Palmeiras para substituir o titular Vavá que deveria servir a seleção brasileira por uns tempos.

Assim que chegou ao Palmeiras foi entrevistado por Jerdi Gomes, na antiga TV Tupi.

Como o garoto se mostrava muito tímido, Jerdi resolveu fazer um trocadilho, com o apelido do rapaz:

— Quer dizer, então, que você, Picolé, vai por o Vavá numa fria, numa gelada…

Mesmo sem graça, Picolé respondeu no mesmo tom:

— É, mas se eu não jogar muita bola e não fizer muitos gols, ele pode me derreter.

Foi o que aconteceu.

FOTO no Blog: Caio Kenji