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Iracema da América – 3

Mesmo assim, e talvez por ser exatamente assim, insistiu na ideia da viagem – e, reconheceu depois, acabou por estragar o dia-a-dia dos dois.

Quando partiu sabiam que, embora houvesse planos para ficarem juntos, não teriam futuro.

Aliás, tempos depois, quando pensou em voltar, cogitou essa possibilidade.

Mas, não se entusiasmou.

Chegou em meados de dezembro – e aqui encontrou tudo exata e tediosamente igual ao dia que partiu, três anos antes.

Arrumou umas aulas de inglês para defender o mês. Mas, nem a casa dos tios, nem o rala-e-rola com Alfredo eram mais os mesmos.

Resultado.

Não esperou o carnaval para se enfiar dentro de um avião. De volta para Nova York.

Decisão difícil, mas logo percebeu: aqui não era mais o seu lugar.

Tudo lhe pareceu estranho e inadequado.

Tentou um jantar decente com Pedro para conversarem. Nem chegou a se concretizar.

Ao ouvir sua voz ao telefone, cantarolou os versos de Chico Buarque:

“Uns dias, afoita
Me liga a cobrar
– É Iracema da América”

Talvez fosse divertido revê-lo.

Seria difícil resistir à tentação. Sabia, de cor, todos os truques do malandro.

E caía em todos, com gosto e volúpia.

Um breve arrepio lhe correu o corpo.

Seria o vento frio de todo fim de tarde ou só o remorso do encontro que não aconteceu?

Não esperou a resposta.

Olhou as crianças e as chamou para perto de si.

Hora de recolhê-las e voltar para a casa da família Thompson.

Não se sentia mais uma intrusa.

Ali, naquele exato momento, era só Iracema.

“Iracema da América”, como Pedro lhe chamou na última vez que ouviu sua voz.

Saudade?

Pode ser. Mas não muita…

** FOTO NO BLOG: Nova York (arquivo pessoal)