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O BBB e nós

Personagens – Quatro casais de cinqüentões e respectivos filhos, com respectivos namorados (as) e amigos (as) entre 18 e 30 anos.

Cenário – Ampla sala de um apartamento na orla paulista, com frente para o mar. A TV está ligada. Mas, ninguém se prende vivamente aos últimos capítulos da novela A Favorita. Mas, há um agito geral depois de um dia de praia ensolarada. Uma roda de marmanjos conversa sobre futebol na varanda. Dois ou três se distraem com notebooks. Uma moça ouve seu ipod espichada em um dos sofás. Todos falam ao mesmo tempo assuntos diversos – das baladas para o fim de noite (os jovens) ao temor pelo trânsito da volta a São Paulo no dia seguinte (os eternos estressadinhos, de plantão).

Nenhuma novidade na cena.

Uma noite qualquer de um sábado qualquer do janeiro que passou.

Há inclusive quem discuta a minissérie sobre a cantora Maysa, então em cartaz. Outros sugerem colocar o DVD de uma dessas novíssimas e chatíssimas duplas sertanejas e recebem uma vaia sem fim dos pais e tios, inconformados com o gosto musical da rapaziada.

Descontração geral. Saudáveis momentos…

Que têm fim, meus caros, assim que começa o BBB.

Verdade verdadeira.

Faz-se, então, um silêncio sepulcral – e todos se colocam aos pés da Santa TV.

Olhos arregalados, atentos.

Aquele tiozão chato – inevitável a todas as famílias – tenta quebrar o clima. Puxa assunto com um – é ignorado. Debocha do que vê na telinha. Lamenta o “melhor jornalista da TV brasileira” no comando do programa. Puxa assunto com o sobrinho corintiano. Tenta de tudo. Até ouvir da sobrinha mais nova, com a cumplicidade de todos ao redor, para ficar quieto.

— Ô tio, dá um tempo, pô.

Resolve atender o apelo da moçoila. Desce e caminha sozinho pela praia.

Puxa pela memória. Quando vira outra cena igual, de cerimonioso silêncio?

Lembra de um show de Gilberto Gil a céu aberto, na quadra do Colégio Equipe. Foi em meados dos anos 70. O cantor acabara de chegar do exílio e a multidão de jovens – entre os quais, ele – ouviu, pela primeira vez, a versão que Gil fizera para “No Woman, No Cry”, de Bob Marley.

Eram outros tempos, confidencia às ondas.

Não sabe dizer se melhor ou pior. Sabe apenas que são diferentes. Bem diferentes…