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O colar de madeira

Ele lhe deu um colar de madeira com a melhor das intenções.

Queria conquistá-la.

Uma das senhoras, que trabalhava na mesma empresa, trouxe o mostruário de ‘preciosidades’ em artesanato que criara (na horas vagas, era uma artista) e ele resolveu atender o apelo da funcionária.

Escolheu o menos espalhafatoso – e comprou. Assim a senhora voltava logo para a sua seção e os deixaria trabalhar em paz.

No ato, chamou a moça – e indiferente aos olhares dos demais funcionários fez o presente.

Ela riu. Na verdade, todos riram.

A peça não era lá grande coisa,

Espalhafatosa e absolutamente fora dos rigores da moda de então.

Mesmo assim, resolveu aceitar.

Dizer não ao chefe não seria politicamente correto. Até por que ela já captara sinais de aproximação. E já confidenciara para ela mesma que gostava daquela corte.

Ele não era exatamente o tipo que queria para si. Um tanto fora de esquadro, outra porção cafajeste, mas tê-lo por perto (e interessado) lhe fazia um bem que não sabia direito como definir.

Agradeceu a gentileza e guardou a peça na bolsa.

Sua ideia era desfazer-se dela assim que saísse dali.

(…)

Tempos depois, no auge da paixão, não é que ele se lembrou do talismã de madeira e, de surpresa, perguntou sobre o seu paradeiro.

Ele nunca a viu com a peça!

Sem graça e desprevenida, a moça resolveu mentir – uma mentirinha boa, só para não atrapalhar o romance. Disse que naquele mesmo dia, foi roubada no ônibus. Abriram a sua bolsa e levaram a carteira, um lenço de seda (de onde tirou isso) e, dentro dele, o colar.

De todas as perdas, só lamentou mesmo o mimo com que a presenteara.

“Por isso, não”, disse ele. “Amanhã mesmo, vou atrás daquela senhora para que faça outro colar daquele.”

Ela esboçou um sorriso sem graça, esmaecida. No fundo, no fundo, sabia que era hora de terminar aquele caso por absoluta incompatibilidade de gostos.

Ademais depois de tantos anos juntos, ele deveria conhecê-la o suficiente para saber que nunca usaria um penduricalho daqueles…