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O dia em que deixei a Redação

Não me pergunte, amigo Escova.

Não saberei lhe responder quando foi meu último dia de trabalho na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.

Estranho você passar vinte e tantos anos em um lugar – e, justo em uma ocasião tão importante, travar e a memória não registrar como foi, e o porquê foi.

Talvez seja melhor assim.

Só lamento algumas coisinhas que deixei ali, pequenos recuerdos como uma estatuazinha indiana que era, digamos, meu amuleto da sorte. Também deixei lá minha coleção de jornais que mandava encadernar todos os anos e um belo arquivo de fotos dos grandes nomes da música popular brasileira que entrevistei de 1976 ao início dos anos 90.

Não me fazem falta.

Mas seria bom tê-los por perto, creio.

II.

A bem da verdade, não saí do jornal do dia para a noite.

Fui saindo devagar.

Demorou, penso, uns três ou quatro anos.

O jornal não andava lá essas coisas financeiramente.

O mundo havia mudado.

O jornalismo também.

Eu, principalmente.

Queria o desafio do novo, mas não sabia exatamente o que era.

III.

Foi um tempo complicado para um cara que estava chegando aos 50.

Alguns amigos já haviam partido fora do combinado.

Assombrava-me a ideínha viva de escrever com maior liberdade. O sonho de ser cronista, escritor. Sinceramente, eu não estava mais inteiramente ali.

IV.

A descoberta da Universidade foi a cartada final.

Cheguei para dar aula por um atalho do Sr. Destino. Nunca me imaginei professor embora fosse formado e tivesse trabalhado, lá na juventude, no Grupo Escolar Jardim Moreira – é mole ou quer que mexa?

V.

Então…

Aos poucos, no curso de Jornalismo, recuperei boa parcela dos sonhos que ficaram pelo caminho. E a passava aos jovens que vinham até mim, aprender e ensinar.

Sentia-me assim um corredor de revezamento. Já cumprira os meus 100 metros e agora… toma aí, rapaziada, que o bastão é de vocês. Construa o novo jornalismo, um Brasil de todos os brasileiros, um mundo melhor.

VI.

Sabe, Escova, quando dei por mim, já estava fora do jornal.

Mas, a esperança estava rediviva.

E continua ainda hoje. Amém!