O amigo Marceleza reaparece.
Diz que “um parça é pr’outro” e está comigo “no que for preciso”.
– Que mistério é esse do autor desconhecido?
Conheço o pimpão, sei que é um gozador.
Me preparo para o jogo jogado:
– Vai me ajudar a encontrar o protagonista da série de crônicas que chamei de Um dos meus cinco ou seis leitores que venho postando desde quinta-feira?
– Não é bem isso, mermão. Desencana. Quero mesmo é lhe contar uma história apropriada ao momento. Você já ouviu falar de um escritor de nome Graham Greene? É das antigas…
Deduzi que seria zoado, e na maior.
Mas o que fazer?
Marceleza é um caro amigo – e outro dos meus cinco ou seis leitores.
Não há escapatória.
Com a palavra o Marceleza – e sua incrível ‘livre adaptação’ de uma narrativa do jornalista e escritor inglês (1904/1991), autor de romances como O Poder e a Glória, Fim de Caso, O Coração da Matéria, entre outros.
…
Fala que eu te escuto, Marceleza:
Há um conto do Sir GG que é a saga de um espião deslocado para Cuba nos anos 50, quando as forças rebeldes, lideradas por Fidel, se aproximavam da então União Soviética.
O Serviço de Inteligência da Inglaterra suspeitava que ali, em segredo, se fabricava uma bomba atômica sob o patrocínio dos russos.
Esta era sua missão.
Deveria investigar e fazer relatos semanais sobre o tema.
O nosso 007 chegou a Havana – e logo se deu ao desfrute. Àquela época, como a história registra, Cuba era, digamos, o encantado parque de diversão dos turistas americanos endinheirados que bordelavam por lá em cassinos, cabarés, bares, restaurantes e congêneres.
Bebidinhas e mais bebidinhas, mulheres e mais mulheres e muita rumba.
Um desfrute ao qual o James Bond de araque se entregou por inteiro. De corpo e alma. Mais corpo do que alma, entenda-se.
E vamos que vamos!
Passada algumas semanas, o inevitável aconteceu.
A chefia de Londres cobrou-lhe a prestação de contas. E o gajo nada havia apurado – e, na boa, nem sequer estava no barato de fazê-lo.
Matutava uma solução para esticar sua estada naquele paraíso quando, da janela do hotel, viu passar um caminhão que mal se arrastava pela rua.
Olha a coincidência!
A moça da limpeza havia esquecido um aspirador de pó, despinguelado, daqueles antigos no seu quarto.
Ele juntou o lé com o cré.
Se era um relatório que queriam, cumpra-se a ordem superior!
Começou dizendo que as investigações estavam bastante adiantadas. Descobriu que semanalmente um caminhão saía do porto, cortava a cidade com destino incerto e não sabido.
Carregava estranhos maquinários.
Numa de suas buscas, teve acesso ao mostrengo que tinha a seguinte forma…
Daí em diante, o cara de pau passou a descrever as peças que compõem o aspirador de pó. Fez até um croqui em dimensões reduzidas do que lhe parecia ser o objeto de sua missão.
Semanalmente, ele encaminhava outro relato. Com as suas inomináveis suspeitas e dá-lhe croqui de outras partes do eletrodoméstico.
Ao cabo de dois ou três meses, chegou uma carta do Serviço Inteligência com o timbre de urgência urgentíssima.
Parabenizava-o pelas sólidas descobertas.
E mais.
A partir de suas instruções nos desenhos, haviam montado, num enorme galpão nos arredores de Londres, uma réplica da usina nuclear russa/cubana que ele descobrira. Seria condecorado por isso, inclusive.
Tinha forma de um gigantesco aspirador de pó.
Parecia ser uma máquina exterminadora muito poderosa.
Os soviéticos – diziam as autoridades inglesas – “estão num estágio bem mais adiantado do que nós”.
– Por isso, é melhor não provocá-los. Sua missão está encerrada. Regresse no primeiro voo.
O que você acha?