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Recordações de um repórter – 11

Bastava o céu ficar nublado para entrarmos em estado de alerta naquela velha redação de amigos inesquecíveis e piso assoalhado que ficou no mais antigo dos anos. Cobríamos a região do Grande Ipiranga, como chamávamos o bairro e 34 vilas e jardins que formam um dos subdistritos mais tradicionais da pujante São Paulo.

A pujante São Paulo que, como vímos ontem, entra em pânico quando chove.

O Ipirangão não fugia a essa rotina. Cercado por córregos e rios de diversos portes – Ribeirão dos Couros, dos Meninos, Tamanduateí, Ipiranga, entre outros –, era começar a chover um tantinho mais forte para que os repórteres saíssem às ruas em busca de notícias. Que, por sinal ou sina, transbordavam infeliz e talqualmente os leitos dos rios.

Ruas inundadas. Trânsito parado. Deslizes de terra. Desabamentos. Famílias desalojadas. Prejuízos incalculáveis e vítimas.

Não vou precisar o ano. Mas lembro que uma das mais caóticas enchentes aconteceu na madrugada de terça de carnaval para quarta-feira de cinza. Estava com o seo Eliseu (o motorista) e Cláudio Michelli (fotógrafo) na avenida Tiradentes, onde se realizavam os desfiles das escolas de samba paulistana.

Fomos direto de uma cobertura para outra.

Vila Carioca e imediações haviam sido tomadas pelas águas barrentas pelas enchentes causadas pelos córregos dos Meninos e Juntas Provisórias. Os galpões de carga da avenida Presidente Wilson exalavam insuportável mau-cheiro, do algodão in natura que armazenava e se encharcara de água e lama.

Antes de voltarmos para a Redação, fomos cada um para sua casa. Tomar um banho, trocar de roupa, tirar um cochilo. Fomos substituídos por outra equipe de reportagem que acompanharia o desenrolar dos acontecimentos. Acontece que caiu outra pancada de chuva. Novas inundações que ilhou os repórteres – entre eles, a amiga Nanci – na igreja Nossa Senhora das Dores, onde se alojavam os desabrigados.

Para voltar mais rápido ao jornal, Nanci e o repórter-fotográfico atravessaram a avenida Tereza Cristhina em plena chuva e com água pela cintura. Assim, em frangalhos e cheirando a água e entulho, chegaram à redação.

Lá estava a elegantíssima Constanza Pascolato à espera de Nanci. Para ser entrevistada…

Foi uma cena e tanto…

FOTO no Blog: Camila Bevilacqua