Ontem falei das datas comemorativas e de que forma as ditas efemérides marcam indelevelmente a rotina de um jornalista.
Houve quem duvidasse das minhas palavras.
Certamente porque nunca “cobriu” um desfile de escolas de samba. A princípio, pode sugerir um grande barato estar em meio ao auê do sambódromo.
Que tudo é festa, alegria e ziriguidum. Oba!
Ledo engano.
Para quem trabalha, é uma maratona.
Vai na concentração, ouve os bambas da escola prestes a desfilar. Acompanha a exibição. Olhos atentos aos vacilos da bateria, ao tombo da porta-bandeira, às tais celebridades, ao que de imprevisto pode acontecer. Corre para a dispersão. Vamos lá: ouvir Fulano, Beltrano e Sicrano.
Adivinhem o que eles dizem?
Inevitável.
Sempre a mesma coisa.
Na concentração:
-- Minha escola vai ganhar...
Já na dispersão muda o tempo do verbo:
-- Minha escola já ganhou...
Se está tudo nos conformes:
-- Não tenho palavras para dizer a emoção que estou sentindo...
Se algo deu errado:
-- Fomos roubados. É uma injustiça...
E há os jargões de sempre:
-- Vamos arrebentar a boca-do-balão.
-- Vamos pras cabeças.
-- É isso aí gente.
-- Samba no pé.
-- Minha escola é uma alegria.
-- Minha escola é um sonho.
-- Minha escola é minha vida.
-- Ano que vem tamos aí de novo.
E cousa e lousa e maripo(u)sa...
Isso tendo ao fundo a sonorização do evento – que, diga-se, não é das melhores – e, depois que passa a bateria, sobra só a voz esganiçada do ‘puxador’ por hora e meia a ribombar pelos ares.
“Na avenida toda iluminada,
a Imperador vai passar...
Glória da Marquesa será lembrada
em nosso eterno cantar...”
E por aí vai...
Depois de não sei quantas horas de pé, correndo pra lá e pra cá, mal alimentado, filas para ir ao banheiro, o depauperado repórter tem que organizar as informações, escrever o texto e, enfim, descansar. Breves horas, brevíssimas. Logo estará de volta para a registrar a segunda parte dos desfiles...
Nos primeiros dois, três anos, o cara não reclama. Até acha natural. É a profissão que escolheu. Mas, depois...
O pior é que há sempre um engraçadinho de plantão pra dizer:
-- Que cara de pau! La vai ele. Ainda diz que vai trabalhar... |