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Boleiro

Quando pai chegou, trazia na mão um cartão de visitas, além do Diário da Noite dobrado embaixo do braço. Era costume do velho almoçar em casa todos os dias. Quase um ritual o seu chegar.

— E aí? A bóia está pronta?

Enquanto a mãe corria para por a mesa e servi-lo, ele lia as notícias, almoçava, tirava um cochilo e só aí voltava para a tecelagem.

Naquela segunda-feira, porém, tinha uma novidade, jurada e sacramentada pelas letras miúdas e finas, impressas sob o nome de um tal Orlando Pelegrino.

Ao ler aquilo, o menino hesitou em acreditar. Aquele cartão trazia o escudo do time do seu coração – a Sociedade Esportiva Palmeiras – e a designação, lida e relida:

Diretor de Futebol.

Seria verdade?

— Amanhã é o dia. Procura o homem no Parque Antártica. Depois da escola, claro.

Nem um comentário sequer a mais.

O pai era assim.O chamavam de calabrês. Um homem rude, de poucas palavras.

O menino se alvoroçou. Era tudo o que ele queria. Iria fazer um “teste” nas equipes amadoras do time do coração.

— Agora guarda isso e vamos comer.

Pegou o cartão sob um copinho de cristal na cristaleira. Olhou o pai lendo As 20 Notícias, de Antônio Guzman, o colunista esportivo da época. Sentiu o coração bater diferente, acelerado.

Tinha 13 para 14 anos e todos os sonhos do mundo.